Título: Esplanada vai dividida às eleições de hoje
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 18/09/2005, O País, p. 12

Lula viajou para São Bernardo e decidirá na última hora se comparece ou não para escolher nova cúpula do PT

BRASÍLIA. Apesar de a maioria da cúpula do governo estar fechada com a candidatura de Ricardo Berzoini, do Campo Majoritário, à presidência do PT, a Esplanada dos Ministérios não escapou à divisão e à disputa que tomaram conta do partido nesse processo de eleição que termina hoje. Os ministros têm sido discretos ao falar do futuro do PT porque há desânimo e constrangimento geral com as denúncias envolvendo dirigentes do partido, mas comparecerão em peso à votação hoje.

O presidente Lula, embora muito contrariado com o rumo que tomou o partido, deverá prestigiar a eleição, atendendo ao pedido de Tarso Genro. Viajou para São Bernardo do Campo, mas só decidirá na hora se participará ou não.

Nos últimos dias, Brasília foi palco de reuniões e encontros em torno de candidaturas, evidenciando o racha petista no primeiro escalão do governo. Na quarta-feira, integrantes do Campo Majoritário fizeram um churrasco em apoio a Berzoini. Na quinta-feira, foi a vez de o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, comandar um encontro de militantes da Democracia Socialista (DS), outra tendência do PT, em favor da candidatura do gaúcho Raul Pont.

Há ainda na Esplanada defensores de outras candidaturas. O secretário especial de Pesca, José Fritsch, por exemplo, defende Valter Pomar, da Articulação de Esquerda. Para Fritsch, o Campo Majoritário deve sair do controle do partido.

Para Lula, PT erra muito

O presidente Lula era favorável ao adiamento das eleições internas do PT por considerar que isso só piora a crise política, mas viu sua posição derrotada dentro do partido. O candidato do Planalto era o presidente da sigla, Tarso Genro, que desistiu depois que não conseguiu afastar Dirceu da chapa do Campo Majoritário. Segundo um auxiliar do presidente Lula, ele está muito irritado com o que está acontecendo com o PT, tem dito que o partido erra demais e continua numa luta autofágica.

Um dos defensores do adiamento da eleição, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, disse que votará em Berzoini, mas confessa não estar animado com o pleito. Na Esplanada, Berzoini tem ainda os votos de Paulo Bernardo (Planejamento); Luiz Dulci (Secretaria Geral); Antonio Palocci (Fazenda).

¿ Em tese, o Berzoini é o mais forte ¿ diz Wagner.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, fez questão de mostrar seu apoio a Berzoini: foi o único ministro a comparecer ao jantar de apoio a Berzoini. Além de parlamentares como os senadores Aloizio Mercadante (PT-SP) e Ideli Salvatti (PT-SC).

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, também votará em Berzoini:

¿ O processo é democrático e tem de ensejar a possibilidade de vários companheiros poderem exercer o cargo. Não acho que haja ameaça ao PT se qualquer outro companheiro ganhar, mas externo minha preferência por Berzoini, que considero uma pessoa firme e correta.

Para Rossetto, que apóia Raul Pont, o PT não sairá da crise se não tirar o comando do partido das mãos do Campo Majoritário. O fato de haver vários candidatos é positivo, diz, porque mostra a volta do respeito às diversas tendências dentro do PT.

¿ A crise está estimulando o debate interno. Nesse momento, votar é um ato de defesa do partido.