Título: CORRETOR E EMPRESA EM OPERAÇÕES SOB SUSPEITA
Autor:
Fonte: O Globo, 18/09/2005, O País, p. 13

CVM desconfia que Waldir Vicente e a RS montaram esquema para burlar o Coaf

BRASÍLIA. Os inspetores da CVM desconfiam que as operações suspeitas da empresa RS e do corretor Waldir Vicente do Prado foram montadas com a suposta intenção de evitar uma notificação ao Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf). A CVM identificou um volume expressivo de recursos que ingressaram nas contas de Prado e da RS por meio de depósitos não identificados abaixo de R$10 mil.

Pelas contas da RS e de Prado nas corretoras Bônus-Banval e Master passaram pelo menos R$20,7 milhões ¿ R$6,2 milhões deles feitos sem identificação. Na lista de empresas que fizeram os depósitos identificados, estão quatro investigadas pela CPI: a Athenas Trading (R$557 mil), a Natimar Negócios e Intermediações (R$275 mil), a Erst Banking Empreendimentos (R$1,2 milhão) e a Royster Serviços S.A (R$5,5 milhões).

As duas primeiras tiveram o seu sigilo bancário quebrado pela CPI dos Correios. Já foram feitos requerimentos à CPI também para convocar o proprietário da Natimar, Carlos Quaglia, e para que a Polícia Federal faça uma busca e apreensão na empresa.

Corretoras deviam manter a CVM informada

¿Não se pode negar que a forma como os recursos foram recebidos nas contas de Waldir do Prado e da RS Administração confere às operações realizadas características que podem constituir artifício para burla da identificação dos efetivos envolvidos e/ou beneficiários, o que uma vez mais daria motivo às corretoras para comunicarem tais operações à CVM¿, informa o relatório da comissão.

¿ Toda essa documentação demonstra que esse esquema tinha uma conexão no exterior fortíssima que vai demandar da CPI mais tempo do que poderíamos imaginar, mas caracteriza a lavagem de dinheiro ¿ afirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), um dos integrantes da CPI.

Em outro relatório sobre a inspeção realizada nas corretoras, os auditores da CVM afirmam: ¿Considerando tudo o quanto examinado e observado, apuramos que a forma utilizada para se realizar algumas liquidações financeiras pode caracterizar-se em sérios indícios de crime de lavagem de dinheiro, tendo em vista que umas envolvem terceiros e outras se constituem em depósitos bancários, em dinheiro, sem identificação, de montantes inferiores a R$10 mil. Isto posto, concluímos que a Master Corretora de Mercadorias Ltda, a Bônus Banval Commodities Corretora de Mercadorias Ltda e a Planner DC Corretora de Mercadorias S.A., ao não terem comunicado esses eventos à CVM, não procederam de acordo com o disposto no inciso I, do artigo 7º da Instrução CVM 301/99 (que trata de lavagem de dinheiro)¿, afirma o inspetor Daniel Makoto Yamaguchi, no documento.

Operações entre clientes não eram liquidadas

Os relatórios mostram ainda operações entre os dois clientes e as corretoras que não eram liquidadas. Em 25 de maio, por exemplo, Waldir fez negócios no mercado futuro de índice e dólar que lhe provocaram um prejuízo de R$5,6 milhões que não foi liquidado. ¿Ocorre que no mesmo período Waldir do Prado, que tinha o saldo devedor da Bônus-Banval, mantinha um saldo a receber (R$3,593 milhões em 27/05/04), que aumentava constantemente e não era liquidado pela Master¿, informa o relatório da CVM.

A RS, por sua vez, tinha em 20 de abril de 2004 um saldo devedor de pouco mais de R$7 milhões na Corretora Master. Apesar de o débito ter duplicado entre 20 de abril e 27 de maio do ano passado, a Master continuou operando com a RS normalmente. Dados apresentados pela BM&F registram 14 operações no período.