Título: `Não vou recuar de jeito algum¿, promete doleiro
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 18/09/2005, O País, p. 15

Depoimento sobre caso Maluf pode até dar mais detalhes

SÃO PAULO. O operador da conta da família Maluf no Safra National Bank of New York, o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, disse ao GLOBO que confirmará à Justiça Federal na quinta-feira todas as operações ilegais que revelou sobre o esquema e que poderá dar mais informações. Alves afirmou que está tranqüilo e convicto de que reafirmará seu primeiro depoimento. Ele é réu na mesma ação em que o ex-prefeito Paulo Maluf é acusado de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e formação de quadrilha.

¿ Não vou omitir nada. Talvez eu possa dar ainda mais informações na quinta-feira. E sobre o que eu já falei (à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal) não vou recuar de jeito algum ¿ disse Alves, que ainda poderá ser beneficiado com a delação premiada.

Alves diz que apenas contou a verdade, sem sequer negociar delação premiada ou obter vantagens em acusar Paulo e Flávio Maluf (filho do ex-prefeito), o que é confirmado pelo procurador da República Rodrigo de Grandis, que atua no caso.

Além de Alves, prestará depoimento à Justiça Federal na quinta-feira Simeão Damasceno de Oliveira, ex-diretor da empreiteira Mendes Júnior. Simeão também é réu no processo, mas confessou a participação no caixa dois que teria sido montado pela empreiteira para alimentar a conta Chanani, por onde passaram US$161 milhões dos Maluf nos Estados Unidos.

Simeão não atendeu aos pedidos de entrevista feitos pelo GLOBO, mas, em seus depoimentos, já deu vários detalhes do suposto caixa dois. Depois disso, voltou atrás e fez uma declaração em cartório negando as informações. Mas os dados que forneceu antes coincidem em detalhes com os depósitos da Chanani, segundo o Ministério Público Estadual (MPE).

Processo sobre os Maluf poderá ser acelerado

Ainda no caso Maluf, há pelo menos cinco testemunhas mantidas sob sigilo e consideradas estratégicas. Maluf e Flávio vão depor à Justiça na quarta-feira. Segundo o procurador regional da República Pedro Barbosa, caso eles sejam mantidos sob prisão preventiva o processo será acelerado, por força de lei.

A Mendes Júnior disse que não recebe nem faz pagamentos que não sejam rigorosamente legais e transparentes. Segundo nota do grupo, sua atuação no Brasil e no exterior é ¿pautada pelo profissionalismo, pela responsabilidade, pela lei e pela qualidade dos serviços que executa, sempre da mais alta confiabilidade¿.

O grupo, cujos bens estão bloqueados por ação do MPE, argumentou que teve seus sigilos bancário e fiscal quebrados há três anos, sem que qualquer fato desabonador tenha sido levantado.

Quanto a Simeão, a assessoria de imprensa do grupo argumenta que ele tentou extorquir dinheiro da empresa e é processado por isso. Além disso, ele não atuaria como diretor, mas como gerente administrativo e financeiro do braço paulista da Mendes Júnior. A assessoria afirmou que ele disse em 2001 ter em seu poder dinheiro da empresa. Mas, como Simeão não teria autorização para ter em seu poder qualquer dinheiro da empresa, foi aberto em São Paulo um inquérito sobre furto em circunstâncias estranhas. Segundo a assessoria, ele teria deixado a empresa por causa disso e depois teria tentado extorqui-la, inclusive por cartas.