Título: BRASILEIRO FAZ SEGURO PARA NÃO TER QUE DAR CALOTE
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 18/09/2005, Economia, p. 33

Até julho, receita com apólices de proteção financeira dobrou em relação a 2004 e deve passar de R$1 bi este ano

A recepcionista Fabrícia Lopes comprou um guarda-roupa e levou junto um seguro contra desemprego. Já a doméstica Vanda de Farias Nunes preferiu a apólice apenas para ampliar em mais um ano a garantia de assistência técnica da geladeira comprada a prestação. Fabrícia paga por mês uma prestação de R$69,90, dos quais R$2 se referem à proteção do seguro. No fim do financiamento, em dez parcelas, terá pago R$20 somente à seguradora.

¿ Pagaria até R$5 por causa da garantia de, se ficar desempregada, o seguro cobrir minha dívida ¿ disse ela.

Já para Vanda, a proteção contra danos à geladeira vai custar, ao todo, R$120, diluídos nas quatro parcelas de R$586 pela compra do produto.

¿ Poderia não ter dinheiro para pagar o conserto após o fim da garantia da fábrica. O seguro virou uma boa saída ¿ explicou a consumidora.

Os dois exemplos não são um fato isolado. Na verdade, multiplicam-se e estão jogando para o alto a arrecadação dos seguros de proteção financeira e dos que cobrem os danos dos eletrodomésticos.

Procons não registraram queixas contra os seguros

Dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) mostram que, em meio à expansão do crédito no país, há muitos brasileiros socorrendo-se no seguro para não ter o nome inscrito nas listas de maus pagadores. Até julho, a receita das apólices contra calotes nas compras financiadas (chamadas prestamistas), por morte ou invalidez do tomador do crédito, havia subido 114,1%. Passou de R$242,4 milhões, nos primeiros sete meses do ano passado, para R$519 milhões em 2005.

Para André Silva Oliveira, do Departamento Econômico da Susep, o setor pode fechar o ano com expansão de 73,7% e receitas de R$915 milhões. Uma das razões da forte expansão é a inclusão do seguro no crédito consignado. Mas há outros fatores, como financiamentos habitacionais e outras modalidades de empréstimos.

Outra categoria que avança é o seguro de risco de crédito de pessoa física, no qual é computada a receita do seguro-desemprego. No acumulado até julho, os prêmios arrecadados pelas seguradoras também mais que dobraram em relação ao ano anterior. A alta foi de 105,4%: de R$77,7 milhões para R$159,8 milhões. Nesse caso, a Susep projeta que a receita atingirá R$277 milhões, num crescimento de 74,4%.

Aos que suspeitam de que a forte expansão dos seguros seja provocada por venda casada, até agora nem o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, nem órgãos de defesa do consumidor, como o Idec, receberam queixas.

Esse movimento, notadamente no caso do seguro-desemprego, é puxado pelos preços baixos da cobertura, diz a superintendente da Aon Affinity do Brasil, Cláudia Papa. Sua empresa, em parceria com concessionárias de serviços públicos, como a CPFL, oferece uma linha de seguros nas contas de luz ou telefone.

Grandes seguradoras também estão no segmento

O seguro paga quatro faturas mensais de energia, até o valor de R$80, em caso de desemprego involuntário e incapacidade física temporária. Nos casos de invalidez permanente total por acidente, a cobertura chega a 12 meses. Hoje, há três milhões de segurados na carteira da Aon, que pagam ao todo R$9 milhões por mês pela proteção. O prêmio médio é de R$3 mensais.

Hoje, as grandes seguradoras, como SulAmérica/ING e Bradesco Seguros, estão presentes nesse mercado, oferecendo produtos para financeiras, lojas de departamento e redes de supermercados, por exemplo. Este segmento tem atraído também empresas estrangeiras, como a americana Assurant Solution, que tem mais de 60 anos de mercado e há três anos e meio fincou as bandeiras no país. Este ano, espera vender R$80 milhões em seguros de proteção financeira, um crescimento de 100%.

Na opinião do vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi), José Arthur Assunção, o seguro de proteção financeira pode ser um aliado para reduzir a inadimplência e, a médio prazo, reduzir os juros em financiamentos. Para o presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Distrito Federal (Sincor), Elizeu Augusto de Oliveira, a chegada de novas seguradoras e de mais pontos de distribuição, como lojas e concessionárias, deve tornar essa linha cada vez mais popular.