Título: INDÚSTRIA ESTÁ OTIMISTA COM O NATAL. COMÉRCIO, EM COMPASSO DE ESPERA
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 18/09/2005, Economia, p. 33

Fabricantes esperam alta de até 25% nas encomendas de fim de ano

SÃO PAULO. A redução dos juros, iniciada na semana passada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, trouxe certo alívio às indústrias, que já aceleram a produção à espera das encomendas de Natal. Mas não foi suficiente para desfazer as dúvidas do varejo quanto ao vigor do consumo no fim do ano. Com as vendas desacelerando há dois meses, o comércio ainda teme que os desdobramentos da crise política contagiem a confiança dos consumidores. Por isso, retarda ao máximo os pedidos à indústria, num claro descompasso de expectativas.

Enquanto grandes fabricantes de eletroeletrônicos, como a Philips e a Semp Toshiba, trabalham para atender a um aumento de pedidos entre 20% e 25% neste Natal, redes varejistas, como a Lojas Cem e a Colombo, têm expectativas bem mais contidas.

¿ No quadro atual, se terminarmos o ano empatados com 2004 está bom ¿ diz o supervisor-geral da Lojas Cem, Valdemir Colleone.

Crise política preocupa o setor varejista

Depois de fechar o primeiro semestre com crescimento real de 5% no faturamento sobre 2004, a rede, que tem 147 lojas, assiste desde julho às suas vendas caírem.

¿ O varejo só vai comprar (da indústria) na medida em que o consumo reagir ¿ prevê Colleone, que até o início de novembro diz que estará com os estoques prontos para as vendas do Natal.

Arnildo Heimerdinger, diretor de vendas da Colombo, que tem 370 lojas em cinco estados, aposta num Natal com vendas movidas a crédito e diz que só começará a enviar encomendas à indústria no mês que vem.

¿ Estou torcendo para que resolvam logo os problemas em Brasília e nos digam coisas boas ¿ diz Heimerdinger. ¿ Estamos projetando um crescimento pequeno para dezembro. Se for de 10%, será excelente.

Com vendas 30% superiores às do ano passado até agosto e uma série de lançamentos programada para o fim do ano, a Philips festejou o corte dos juros da semana passada e espera um aumento entre 20% e 25% na demanda neste Natal.

¿ Nós olhamos o último trimestre com grande otimismo. O ano já demonstrou que será de consumo forte, e o início da redução dos juros passa uma sinalização bastante interessante para o consumidor ¿ disse o vice-presidente da divisão de Consumo Eletrônico da Philips, José Fuentes.

O executivo observa que o terceiro trimestre é tradicionalmente mais pobre, com vendas fracas no varejo. E diz que um ajuste entre as expectativas dos dois setores é questão de tempo.

¿ Como trabalham mais próximos do consumidor, os lojistas só vão ter uma percepção mais favorável entre outubro e novembro ¿ previu.

A Eletros, associação que reúne as indústrias de eletroeletrônicos, registrou alta de 16,28% nas vendas no primeiro semestre e estima expansão de 8% a 10% no setor em 2005.

Poder de compra do consumidor estaria no limite

Mas há outros fantasmas que assombram os lojistas, além dos juros e da crise política, como a tímida expansão da renda e o alto endividamento dos consumidores. Fernanda Della Rosa, diretora da Assessoria Econômica da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP), diz que o rendimento médio total cresceu 1,4% até julho, segundo o IBGE. Ao mesmo tempo, lembra, pesquisa da Fecomércio-SP mostra que 67% dos consumidores da região metropolitana têm dívidas.

¿ O poder de compra do consumidor está no limite da capacidade para pagar dívidas ¿ diz a economista, que prevê queda de 8% nas vendas do comércio neste Natal. ¿ As pessoas não conseguem comprar com recursos próprios. Pagam uma dívida e fazem outra, para continuar consumindo.