Título: ALONGAR APLICAÇÕES É SAÍDA PARA ARMADILHA DO JURO
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 18/09/2005, Economia, p. 35

Economistas acreditam que momento é propício para oferecer ao público investimentos com prazo mais longo

Como livrar a economia do círculo vicioso representado pelas altas taxas de juros de curto prazo? A questão vem ocupando muitos dos cérebros ilustres do país, preocupados com o fato de mais da metade da dívida pública interna (hoje em torno de R$915 bilhões) ser composta por títulos indexados à taxa básica Selic, dos quais cerca de R$50 bilhões no overnight ¿ aplicações de até 15 dias.

Para especialistas como o professor da PUC-Rio Marcio Garcia, o corte de 0,25% na Selic, ocorrido esta semana, poderia ter sido maior. Mas o viés de baixa cria a oportunidade para iniciar o alongamento do prazo das aplicações. Ele está elaborando um estudo que vai ser a base para a discussão, em novembro, sobre o mercado financeiro, durante seminário organizado pelo Instituto de Estudos de Politica Econômica (Iepe).

O evento também vai abordar a tributação do mercado, a partir de trabalho do diretor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo Ioshiaki Nakano. E contará com a presença do economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Guillermo Calvo.

O momento é propício, segundo Garcia, para iniciar o alongamento da dívida, parte financeira do processo de normalização econômica que significa ter um mercado capaz de oferecer recursos a custo e prazo adequados para garantir o consumo e os investimenos. Entretanto, para não correr o risco de os investidores buscarem ¿muletas¿ como o dólar, acrescenta, será preciso estimular o investidor a migrar para papéis prefixados, de prazo mais longo.

¿ É possível fazer uma redução mais consistente da Selic, para até 18% no fim do ano, sem criar conflito com a meta de inflação ¿ opina o economista-chefe do Itaú, Tomás Málaga.

O superintendente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), Paulo Sampaio, concorda que é hora de sair da Selic.

¿ A sinalização de queda da taxa aumenta o apetite do investidor para títulos prefixados porque ele compra o papel agora, com a taxa prefixada na alta, e vai resgatar no futuro, quando o juro estará menor.