Título: ELEIÇÃO ALEMÃ, FUTURO EUROPEU
Autor: Graça Magalhaes - Ruether
Fonte: O Globo, 18/09/2005, O Mundo, p. 38

Resultado da disputa entre Merkel e Schroeder pode mudar relações do país com aliados

Após uma das campanhas eleitorais mais movimentadas desde a reunificação do país, a Alemanha elege hoje um novo governo. À frente de uma disputa acirrada estão Angela Merkel, política originária da antiga Alemanha Oriental (RDA) e candidata da coalizão CDU/CSU (União Democrata-Cristã e União Social-Cristã), e o chanceler federal Gerhard Schroeder, do Partido Social-Democrata (SPD), à frente da coalizão que governou o país nos últimos sete anos. Mas nas urnas alemãs não estão em jogo apenas assuntos domésticos. Analistas afirmam que a disputa entre Merkel e Schroeder pode mudar a face da política externa alemã.

Raramente uma eleição alemã foi acompanhada com tanta atenção no exterior. Apesar do silêncio do Departamento de Estado, especialistas afirmam que os americanos preferem uma vitória de Merkel. O cientista político americano Andrew Denison, do Instituto de Estudos Transatlânticos de Bonn, diz que o fim do governo Schroeder é visto com alegria nos Estados Unidos, tanto por republicanos quanto por democratas. Schroeder foi contra a guerra do Iraque.

¿- Os americanos têm um grande problema com Schroeder por causa do seu estilo de tentar ganhar pontos criticando a política americana. Ninguém em Washington exige apoio incondicional, mas o governo de Schroeder tentou bloquear a política americana. De um governo da CDU esperamos mais diplomacia ¿- diz Denison.

Putin, Chirac e Turquia pelo SPD

Mas não somente os americanos olham para Berlim com expectativa. A Turquia e a Rússia vêem uma vitória de Merkel como um risco de piora nas relações bilaterais. A Turquia, que inicia no dia 3 de outubro negociações para o ingresso na União Européia, vê numa vitória de Merkel o surgimento de um inimigo importante, capaz de bloquear a aspiração turca. Nos últimos dias, o debate foi marcado pelo tema Turquia. O SPD de Schroeder procurou assegurar votos da minoria turca, enquanto Merkel tentou mobilizar o eleitorado contra um ingresso da Turquia na UE.

Tacittin Yatkin, um bem-sucedido advogado que é um dos líderes da comunidade turca em Berlim, diz que com Merkel no poder ¿o sonho da Turquia de finalmente ser aceita na UE sofre um grande retrocesso¿. Por isso, segundo ele, 99% dos turcos vão votar na coalizão SPD/Verdes. Cerca de 850 mil turcos têm nacionalidade alemã, sendo que 600 mil em idade de votar.

Se dependesse do presidente da Rússia, Vladimir Putin, por exemplo, Schroeder ficaria no poder. Na sua última visita a Berlim, realizada na semana passada, Putin disse:

¿ Gerhard, de qualquer forma continuaremos amigos.

Os franceses também apostam em Schroeder. Mesmo que a era do presidente da França, Jacques Chirac (seu maior amigo), chegue lentamente ao fim, o eixo Berlim-Paris continuaria, ao passo que com uma vitória de Merkel, a expectativa é de formação de um eixo Berlim-Londres.

Desemprego alto prejudica Schroeder

No front doméstico, entretanto, os candidatos têm problemas mais urgentes a enfrentar. Uma das pedras no sapato de Schroeder é Oskar Lafontaine, ex-presidente do SPD que deixou o partido por insatisfação com o estilo Schroeder de governar. Lafontaine aliou-se aos comunistas da antiga RDA e criou o Partido da Esquerda, que poderá obter cerca de 10% dos votos.

Schroeder perdeu a popularidade com a explosão do desemprego. Hoje, quase cinco milhões de alemães estão desempregados e cerca de dois milhões têm subempregos.

¿- Schroeder não só arruinou as finanças do Estado, como fez muitas coisas piores que seu antecessor, Helmut Kohl ¿ diz Petra Pau, política comunista da antiga RDA.

Segundo Petra, se o seu Partido da Esquerda chegar a participar de um governo com o SPD ¿ possibilidade que vê como remota ¿ a medida mais urgente seria a criação de um sistema fiscal mais justo, cobrança de mais impostos dos ricos, para o financiamento de programas contra o desemprego e amparo social.

Se Merkel vencer, alguns institutos de pesquisa prevêem para a Alemanha um novo boom econômico.

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