Título: HORA DE DECISÃO
Autor: JORGE BITTAR
Fonte: O Globo, 19/09/2005, Opiniao, p. 7

OPartido dos Trabalhadores enfrenta um momento de decisão. Ao mesmo tempo em que precisa apresentar desculpas à Nação pelos erros cometidos por alguns de seus dirigentes, tem que promover sua refundação para manter vivos os ideais que motivaram sua criação. No governo, precisa assumir um novo papel: o de prestar-lhe o devido apoio como principal partido de sustentação, mas sem abdicar de um grau de autonomia que lhe permita exercer uma consciência crítica.

As desculpas são fundamentais para um novo ciclo. Um pedido de desculpas não é um ponto final para encerrar um debate sobre práticas condenáveis. Ele é, antes de tudo, um ponto de partida, pois traz implícito, além da expectativa do perdão, o desejo de reparação. Pela ação direta de alguns de seus dirigentes, o partido errou. Pelo desconhecimento das práticas condenáveis, a imensa maioria dos filiados do PT permaneceu inerte.

O pedido de desculpas, no entanto, soaria vazio se não viesse acompanhado de uma firme determinação de promover mudanças internas no partido e na estrutura das instituições políticas que ensejaram ou permitiram a ocorrência de desvios de conduta. As desculpas de nada valerão se o PT não se engajar também na luta para que as instituições passem por reformas. São necessárias medidas saneadoras nas instituições a partir das reformas política e administrativa, sob pena de a essência do problema não ser atacada.

No âmbito interno, o PT deve estabelecer rígidos mecanismos de fiscalização e controle sobre as finanças partidárias. É imperiosa também a punição severa de todos os que erraram e feriram a ética partidária.

O PT está hoje no epicentro de uma grave crise política, fruto dos desmandos de alguns dirigentes cujas ações foram facilitadas pela debilidade do sistema político-eleitoral brasileiro e que causaram perplexidade e indignação aos mais de 800 mil filiados.

Em meio ao turbilhão em que nos encontramos, resta pelo menos a certeza de que a crise está restrita ao ambiente político. A economia não foi contaminada, pois está assentada sobre fundamentos sólidos e o país continua a crescer de maneira sustentável. Não resta dúvida que estamos acertando no fundamental, mas acho que já poderíamos ter flexibilizado a política de juros e ter dedicado maior atenção a algumas áreas que são fundamentais, principalmente a de infra-estrutura. É claro que também já fizemos muito mais do que o governo FHC, principalmente no atendimento das demandas sociais em que houve avanços consideráveis, a começar pelo Bolsa Família. Mas fizemos muito menos do que deveríamos ter feito por conta das expectativas que criamos na sociedade. Esse é o desafio que o novo PT precisa enfrentar e superar.

JORGE BITTAR é deputado federal (PT-RJ).