Título: OIT: ACIDENTES E DOENÇAS DE TRABALHO MATAM 2,2 MILHÕES POR ANO NO MUNDO
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Fonte: O Globo, 19/09/2005, Economia, p. 17

Mais de 6 mil morrem por dia. Número de casos tem crescido sobretudo na Ásia

GENEBRA. Cerca de 2,2 milhões de pessoas morrem por ano, em todo o mundo, vítimas de acidentes ou doenças relacionadas ao trabalho. São mais de seis mil mortes por dia, segundo estudo que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentará hoje no XVII Congresso Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho, em Orlando (nos EUA). A OIT alerta ainda que essa estimativa pode estar subestimada, já que muitos países têm sistemas ineficientes de notificação de acidentes de trabalho.

No estudo, que tem como base o ano de 2001, a OIT ¿ uma agência do sistema ONU ¿ mostra que as mortes relacionadas ao trabalho têm recuado nos países industrializados. Mas aumentaram principalmente na Ásia, segundo a OIT, devido ¿ao rápido desenvolvimento e às fortes pressões competitivas exercidas pela globalização¿.

Número de acidentes fatais subiu 33% na América Latina

No que diz respeito apenas aos acidentes fatais ¿ sem contar as mortes por doenças ligadas ao trabalho ¿ houve uma alta de mais de 20% no número de casos na China e na Índia, entre 1998 e 2001. Na América Latina e Caribe, o número de acidentes cresceu 33%.

¿ A segurança e a saúde são vitais para a dignidade do trabalho ¿ disse o diretor-geral da OIT, Juan Somavia.

A OIT alerta que a malária e outras doenças contraídas no ambiente de trabalho, assim como provocado por substâncias tóxicas, estão crescendo de forma alarmante nos países em desenvolvimento. No caso das substâncias tóxicas, são 440 mil mortes por ano, das quais cem mil provocadas pelo amianto. Só no Reino Unido, 3.500 pessoas morrem por ano devido ao amianto, mais de dez vezes o total de mortes por acidentes de trabalho.

O relatório afirma que, em muitos países, faltam leis e medidas preventivas que protejam os trabalhadores, além de mecanismos de indenização em casos de acidente ou doença e, também, de atendimento médico no local.

¿ A triste realidade é que, em algumas regiões do mundo, muitos trabalhadores morrem devido à ausência de uma cultura de segurança adequada ¿ afirmou o diretor do Programa de Segurança e Saúde do Trabalho da OIT, Jukka Takala.

Enquanto os homens têm mais risco de morrer durante a idade ativa (antes dos 65 anos), as mulheres sofrem com doenças contagiosas e transtornos de longa duração. São casos de malária na atividade agrícola, infecções bacterianas ou virais e desordens musculares. Os homens, por sua vez, estão mais expostos a acidentes, doenças no pulmão e câncer relacionado ao trabalho, como o provocado por amianto.

Tabagismo responde por 14% das mortes por doença

Por idade, os trabalhadores entre 15 e 24 anos têm mais chances de sofrer acidentes não fatais, enquanto os com idade superior a 55 anos correm mais risco de morte.

A OIT constatou ainda o aumento nas chamadas ¿novas doenças do trabalho¿, como distúrbios psicossociais, violência, alcoolismo, dependência química, estresse, tabagismo e Aids. Problemas com cigarro afetam principalmente os trabalhadores de restaurantes, no setor de serviço e com entretenimento. Estima-se que o tabagismo cause 14% de todas as mortes por doenças relacionadas ao trabalho, ou 200 mil casos por ano.

O relatório destaca as falhas em sistemas de notificação de acidentes e doenças de muitos países. E cita a Índia como exemplo. Com 1 bilhão de habitantes, o país mantém uma estatística de apenas 222 acidentes fatais por ano. Enquanto isso, a República Tcheca, cuja população em idade ativa representa apenas 1% do seu equivalente na Índia, constata 231 mortes por acidente de trabalho ao ano. A OIT estima que o número real de acidentes fatais entre trabalhadores indianos seja de 40 mil por ano.