Título: Procurando Itamar
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 20/09/2005, O Globo, p. 2

Na extrema-unção, os partidos resolveram ser corteses com Severino Cavalcanti, dando-lhe tempo para preparar a renúncia e evitando discutir a sucessão antes que isso aconteça. De público, pelo menos, porque nos bastidores as conversas avançam por caminhos que podem dificultar a escolha de um nome que represente para a Câmara o que Itamar Franco representou no governo depois do impeachment de Collor. Quem vem se credenciando melhor ao papel é o peemedebista Michel Temer.

A comparação com Itamar é do deputado petista Paulo Delgado e parece adequada. A Câmara precisa agora de un nome que seja aceito por todos, que seja respeitado mas não tenha ambições ou projetos que levem ao aguçamento dos conflitos internos e esteja disposto a ser um presidente de travessia. No mandato tampão de pouco mais de um ano, sua tarefa central deve ser a retomada da rotina legislativa e a recuperação da imagem da Casa.

Mas não seguem as conversas pelo melhor caminho porque as ambições, pessoais e partidárias estão começando a aflorar. Os três maiores partidos de oposição parecem tentar escolher o novo presidente sozinhos; o PT sabe que perdeu a força para reivindicar o cargo como maior partido mas, além da proliferação de candidatos, não adotou ainda uma linha clara para o caso; e na base governista, surgem outras candidaturas, como a do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), que é vice-líder do governo. O deputado José Carlos Aleluia, do PFL, diz que seu partido, o PSDB e o PMDB devem se reunir separadamente para se fixarem numa candidatura comum. Lembra que juntos terão 200 votos para fazer o novo presidente. Mas se apresentarem um prato pronto ao PT, e também a partidos menores que estiveram na vanguarda do movimento para afastar Severino, como o PPS e o PV, haverá dificuldades. O ideal é que se sentem todos em busca do Itamar parlamentar.

Embora o PFL deva apresentar o nome do próprio Aleluia, e o PSDB o de Jutahy Júnior, as águas correm é na direção de Michel Temer. Mas para que seu nome vire solução, não poderá ser imposto, terá que surgir como opção quase natural. Qualquer imposição agora levará a uma disputa que pode significar a repetição do erro de fevereiro, quando as disputas (dentro do PT, e entre governo e oposição) levaram à vitória de Severino. Michel, sabedor de que só tem chance se for convocado por todos para o posto, está quietíssimo e evitando o assunto.