Título: Procurador-geral afirma ter recebido `provas contundentes¿ contra Severino
Autor: Carolina Brígido e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 20/09/2005, O País, p. 4

Entre os documentos entregues a Antônio Fernando está um relatório do Coaf

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, está convencido de que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), recebeu propina do empresário Sebastião Buani, dono de uma rede de restaurantes que prestava serviços à Casa. Souza afirmou ontem ter em mãos provas contundentes contra o deputado. Entre os documentos entregues a Antônio Fernando, considerados de conteúdo explosivo, está um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

O relatório contém registros de movimentações bancárias que confirmariam as transações financeiras entre Buani e Severino. Pela lei, os bancos são obrigados a informar ao Coaf, através do Banco Central, os saques ou depósitos atípicos de qualquer correntista.

¿ Recebi documentos que confirmam o envolvimento do presidente da Câmara. São dados mais concretos e materiais do que os da polícia. Talvez dispense a quebra de sigilo ¿ disse Antônio Fernando, referindo-se à quebra de sigilo bancário pedido pela Polícia Federal. Ele não revelou o conteúdo dos documentos.

O procurador-geral disse que o material foi entregue espontaneamente. Na semana passada, Antônio Fernando chegou a dizer que, com a divulgação do cheque que comprovaria o pagamento da propina, a versão de Buani estava confirmada.

PF conclui laudo sobre contrato

Antônio Fernando também afirmou que essa investigação, conhecida como o inquérito do mensalinho, terá a conclusão mais rápida e simples do que as apurações sobre o suposto pagamento de mensalão a parlamentares aliados ao governo. Na sexta-feira passada, a PF encaminhou ao STF um pedido para que o inquérito do mensalinho seja transferido para o tribunal ¿ foro adequado para apurar suspeitas criminais contra parlamentares.

Na mesma ocasião, foi sugerida a quebra do sigilo bancário e telefônico de Severino. Ontem, o relator do caso no tribunal, ministro Gilmar Mendes, pediu um parecer ao procurador-geral sobre as sugestões da PF. Após Antônio Fernando se manifestar, caberá ao ministro decidir se instaura ou não o inquérito no STF e se autoriza as quebras de sigilo.

O Instituto Nacional de Criminalística concluiu ontem o laudo sobre o documento supostamente assinado por Severino para assegurar a Buani a renovação do contrato da rede de restaurante Fiorella com a Câmara, ponto de partida da briga entre o empresário e o deputado. O laudo informa que a assinatura do documento tem padrão similar a grafia de Severino, conforme divulgou o GLOBO na edição de ontem. Mas, como a análise foi feita sobre a cópia do documento e não sobre o original, as conclusões não são definitivas.

Em linhas gerais, o laudo informa que não é possível dizer se a assinatura é ou não de Severino. O resultado não altera o andamento das investigações. Desde o início, os investigadores que atuam no caso têm dito que o mais importante é comprovar se houve ou não o pagamento da propina.