Título: ESPECIALISTAS: ESTRATÉGIA É SE DISTANCIAR
Autor: Soraya Aggege, Adauri Antunes, Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 20/09/2005, O País, p. 5

Ausência de Lula nas eleições do PT seria tentativa de descolar imagem

SÃO PAULO. A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições internas do PT, partido do qual é o maior símbolo há 25 anos, deu nitidez à estratégia do governo de evitar que o envolvimento de petistas nas denúncias de corrupção arranhe ainda mais a imagem do presidente, dizem cientistas políticos. Para eles, Lula tenta distanciar sua figura da dos petistas envolvidos pelos escândalos ao mesmo tempo que tenta passar a partidos aliados a idéia de que não está disposto a defender aqueles que o teriam traído, como tem dito em discursos recentes.

¿ Como Lula tem problemas em relação ao futuro imediato do PT, ele julga que tem que ficar à margem do partido. Lula é muito esperto politicamente, razão pela qual a crise não o atingiu até agora. Se ele votasse ontem (domingo) no Campo Majoritário, a oposição poderia voltar com carga pesada contra ele ¿ analisou o geógrafo e um dos intelectuais que participou da fundação do PT, Aziz Ab¿Saber. ¿ Mas é triste que o operário que chegou ao poder com os trabalhadores tenha de se abster num momento tão importante justamente para o Partido dos Trabalhadores.

¿O PT já tem a identidade da crise¿

O cientista político Rui Tavares Maluf também avalia a ausência de Lula como uma alternativa para descolar sua imagem da do partido, que nos últimos quatro meses vem sendo manchado pelas denúncias.

¿ O governo já foi vinculado ao que se passa pelo PT, que já tem a identidade da crise. Mas creio que o presidente Lula não quer que essa mancha se espalhe mais ¿ disse Rui, para quem o presidente não teria condições de enfrentar uma campanha à reeleição longe do partido que ajudou a fundar.

O diretor do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação (Cepac), Rubens Figueiredo, analisa a ausência de Lula neste momento de crise como ¿conveniência político-eleitoral¿.

¿ Lula gosta de investir em gestos simbólicos. Quando assumiu o governo e tudo estava bem, foi para os Estados Unidos com a estrela do PT no peito e fez canteiros de flores vermelhas também em forma de estrela no Alvorada. Agora, evita votar no próprio partido. É uma questão de conveniência político-eleitoral ¿ disse Figueiredo.

Já para José Arthur Gianotti, professor de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e ligado a tucanos, a figura simbólica do presidente está ¿trincada¿, pois ele optou pelo caminho ¿mais fácil¿:

¿ O Lula não quer nem a cruz nem a espada, prefere caminho mais fácil. A política dele tem sido institucional. Prefere não se envolver com nada que o afete. É um negociador.