Título: PT: Berzoini enfrentará esquerda no 2º turno
Autor: Soraya Aggege, Adauri Antunes, Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 20/09/2005, O País, p. 5
Com 74% dos votos, candidato do Campo Majoritário lidera. Pomar, Pont, Rosário e Plínio disputam vaga
SÃO PAULO. No balanço parcial das eleições internas divulgado pelo PT ontem à noite, com 74% dos votos apurados, o candidato do Campo Majoritário (corrente do governo), Ricardo Berzoini, liderava a disputa, mas não tinha votos suficientes para evitar o segundo turno. Ainda não era possível saber quem vai enfrentá-lo no dia 9 de outubro. Valter Pomar, Raul Pont, Maria do Rosário e Plínio de Arruda Sampaio disputam a ida para o segundo turno. Com base nos dados preliminares, porém, a nova disputa seria entre Berzoini e Pomar.
De acordo com o balanço, Berzoini tinha 42,8% dos votos; Pomar, 17%; Plínio, 13,4%; Pont,12,7%; e Maria do Rosário; 12%. Markus Sokol tinha 1,4% e Gegê, 0,6%. Até a noite tinham sido apurados 201 mil votos. A expectativa é que o número de votos chegue a 270 mil, superando com folga o quórum mínimo exigido, de 15% dos mais de 820 mil filiados aptos a votar.
Apesar da indefinição, as correntes já articulavam alianças para o segundo turno. Aliada histórica do Campo Majoritário, a corrente de centro Movimento PT decidiu não apoiar Berzoini nem sua chapa.
¿ Pela primeira vez, o Movimento PT estará numa situação de oposição ao Campo Majoritário, caso não cheguemos ao segundo turno ¿ disse a candidata pela chapa, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
Os membros que discordarem poderão apoiar Berzoini sem sofrer punições internas. Mas a tendência da corrente é apoiar o deputado estadual gaúcho Raul Pont, da Democracia Socialista, ou o terceiro-vice do PT, Valter Pomar, da Articulação de Esquerda. No caso de o independente Plínio de Arruda Sampaio, apoiado pela Ação Popular Socialista (APS), ir para o segundo turno, o Movimento PT condicionará o apoio à possibilidade de o candidato se comprometer a defender o governo.
Berzoini não atendeu aos pedidos de entrevista. Já Pomar comemorou:
¿ Seja quem for para o segundo turno terá meu apoio irrestrito. E desta vez temos chances concretas de ganhar.
Pont afirma que em princípio mantém o compromisso firmado entre os cinco candidatos de oposição, de apoio àquele que chegar ao segundo turno. No entanto, ressalva que antes é preciso que as denúncias de práticas coronelistas, compra de votos e votos de cabresto sejam esclarecidas. Segundo ele, as urnas de São Paulo surpreenderam pela quantidade votos para Pomar, que foi apoiado por parte de filiados do Campo Majoritário.
¿ No mínimo, temos um fato novo nesta eleição: a esquerda sai fortalecida, surgiu uma nova força interna nas urnas ¿ comemorou Plínio.
Não está descartada, no entanto, uma debandada do partido, caso Plínio vá para o segundo turno e perca.
Chico Alencar: decisão sobre ficar no PT é dramática
O grupo de Plínio não pretende se aliar a Pomar. Para a APS e outras forças que apóiam o candidato, houve voto de cabresto em favor de Pomar. O único candidato de esquerda que Plínio e seu grupo apoiariam é Pont. Mas, no caso de derrota, muitos integrantes do grupo podem também deixar o PT. O candidato explica que ainda cedo para fazer tal avaliação.
Em no máximo dez dias, o Bloco Parlamentar de Esquerda do PT, com cerca de 20 deputados federais, deverá ter uma posição conjunta sobre sua permanência no partido. Os parlamentares que querem disputar a reeleição têm até o dia 4 para fazer a nova opção partidária.
O deputado Chico Alencar (RJ) lembrou ontem que restou pouca esperança na recuperação ética do PT com a previsão de composição do próximo Diretório Nacional.
¿ Mesmo que o Pomar vá para o segundo turno e vença, ele vai enfrentar a maioria. Vai repetir o Tarso Genro, que tem boas propostas mas perde todas ¿ analisou Chico. ¿ Esta é a decisão mais dramática da minha vida.