Título: SOLUÇÃO RACIONAL
Autor: Sérgio Ricardo de Almeida
Fonte: O Globo, 20/09/2005, Opinião, p. 7

Merece o mais irrestrito apoio o movimento de reestruturação da Varig, pioneira da aviação comercial brasileira e patrimônio do Rio, cidade onde fincou sua base e da qual recebeu, principalmente nos momentos difíceis, inequívocas demonstrações de apoio e solidariedade do governo do Estado e de todo o setor turístico fluminense.

Nesse longo relacionamento, o Estado do Rio de Janeiro colocou-se invariavelmente na linha de frente em defesa de seus interesses. Na hora de aliviar a situação crítica em que se encontrava a questão do leasing dos aviões, foi a Justiça carioca que demandou a Justiça dos EUA, deslocando-se até lá para conseguir a prorrogação do prazo fatal da retomada das aeronaves alugadas, evitando assim a interrupção das atividades.

No momento em que se apresenta ao Tribunal de Justiça fluminense o Plano de Recuperação Judicial que traria a tão sonhada reestruturação da Varig, o Rio de Janeiro não pode aceitar a cláusula que propõe a concentração de suas operações em Guarulhos, como forma de reduzir custos e ampliar receitas.

A inconformidade se fortalece com a constatação de que esse momento coincide com a clara retomada do crescimento da demanda internacional para os destinos turísticos brasileiros ¿ pelos dados da Embratur, o acumulado dos últimos 12 meses projeta mais 7,25% para 2005 ¿ do qual o Rio de Janeiro recebe 39,5%. Crescimento para o qual o reordenamento da malha operacional nos aeroportos Tom Jobim e Santos Dumont trouxe maior eficiência.

Para atender à demanda do mercado doméstico, em detrimento do mercado receptivo internacional, fundamental para o Rio de Janeiro, reconhecidamente um destino turístico de interesse do mercado internacional, os vôos foram maciçamente transferidos para São Paulo, obrigando os passageiros do subutilizado Aeroporto Tom Jobim, tanto os que dali partem quanto os que a ele se destinam, a penosas e longas conexões no hipertrofiado Aeroporto de Guarulhos.

A questão que se coloca é como equacionar racionalmente essa disparidade, que gera sérios prejuízos à economia do país. Dos 4.800.000 de turistas estrangeiros que visitaram o Brasil em 2004, de acordo com os dados da Embratur, 1.800.000, ou aproximadamente 39,5%, vieram ao Rio de Janeiro.

Entre as dez cidades brasileiras mais procuradas por turistas do exterior, além do Rio de Janeiro em primeiro lugar, aparece na sétima posição a cidade de Armação dos Búzios, na Costa do Sol fluminense. E dos 62 eventos internacionais captados pelo Brasil no ano passado, 30 foram sediados no Rio de Janeiro, o que reforça a importância do seu setor receptivo. E agora em outubro, a cidade se prepara para receber 20 mil participantes da Feira das Américas-2005.

Entendemos que, num país de diversidade turística e cultural tão ampla como o Brasil, marcado pelas longas distâncias, não apenas de razões econômicas é estruturado um projeto nacional de turismo, em que a malha aeroviária é fundamental para sua perfeita equação.

Diante dessa constatação, torna-se prioritário um novo estudo sobre o rebalanceamento da malha aérea do eixo Rio-São Paulo, começando pela manutenção do status operacional da Varig no Rio de Janeiro, e redistribuindo alguns vôos diretos semanais de Guarulhos para o Galeão.

Pois tão importante quanto o fator econômico é não se perder de foco que na outra ponta do peso de São Paulo está a cidade-ícone do turismo brasileiro, a que recebe o maior número de visitantes tanto nacionais como estrangeiros, e que, mesmo carente de mais vôos internacionais diretos, que aumentariam o fluxo, é a cidade de maior exposição no país e no exterior.

É preciso considerar que, sendo o Rio de Janeiro um destino-âncora do mercado turístico internacional do país, a proposta da transferência das operações da Varig para São Paulo comprometerá todo o processo de crescimento do seu turismo e, por tabela, o do Brasil.

A Varig e o mercado carioca sempre mantiveram a mais estreita e produtiva relação, participando com o setor corporativo de parcerias e estratégias promocionais que sempre pautaram nossas ações no exterior.

Ao manifestar sua inconformidade com a pretendida mudança, o Rio de Janeiro mantém a firme expectativa de que o Plano de Recuperação Judicial, com os ajustes que se fizerem necessários, aponte a solução racional para a crucial questão dos custos. Mas que a Varig mantenha suas operações no Rio de Janeiro, cidade que a viu crescer, ganhar o mundo e projetar o seu nome e o do país no exterior.

SÉRGIO RICARDO DE ALMEIDA é secretário de Turismo do Estado do Rio de Janeiro.