Título: PF: BANDO TINHA `BRAÇO DE APOIO¿ NO BC DE FORTALEZA
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 20/09/2005, O País, p. 11

Gravação feita no aeroporto ajuda a polícia a identificar um dos supostos assaltantes, conhecido por Alemão

FORTALEZA. O Ministério Público Federal (MPF) afirma que a quadrilha que roubou R$164,7 milhões do Banco Central (BC) em Fortaleza, em agosto, tinha um ¿braço de apoio na instituição¿. Alguém de dentro do BC teria fornecido a planta do caixa-forte e dado informações sobre a inexistência de sensores de impacto no piso. Quarenta e dois dias depois, a polícia recuperou apenas 3% do valor roubado. Seis pessoas foram denunciadas por furto qualificado, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

A quadrilha invadiu o cofre perfurando um buraco no solo, fim da linha de um túnel de 80 metros. O circuito interno de televisão não gravou imagens. Segundo o MPF, um técnico de eletrônica da empresa que presta serviços ao BC há 23 anos revelou que os sensores de impacto, que poderiam ter disparado quando o piso foi perfurado, só existem nas paredes externas e no teto. O BC não quis se pronunciar sobre o assunto.

Esse mesmo técnico contou que o sistema contra invasão tem cinco câmeras de filmagem em várias direções. No fim de semana do crime, uma empilhadeira foi deixada em frente a uma delas, bloqueando a visão justamente do local onde o buraco foi feito. A sala de controle estaria sendo operada por uma empresa terceirizada, a Servis Segurança. Os diretores negam.

A Justiça Federal divulgou ontem um CD com imagens gravadas pelo circuito interno de segurança do Aeroporto Internacional Pinto Martins, em que vários suspeitos fazem check-in. Elas foram gravadas no dia 7 de agosto, um domingo, por volta das 13h. O único identificado na denúncia do MPF é o criminoso conhecido por Alemão. A mulher e uma criança que também aparecem nas fotografias seriam a esposa e o filho dele. O roubo aconteceu entre sexta-feira e sábado e só foi descoberto no dia 8, segunda-feira.

Alemão foi identificado por várias testemunhas. Uma delas foi um dos três taxistas que levaram parte do grupo ao aeroporto. Os taxistas foram chamados por volta do meio-dia para apanhá-los na sede da J.E. Transporte, do empresário José Charles Machado de Morais, um dos presos.

O GLOBO conversou com o taxista, que pediu para não ser identificado. Ele conta que levou duas mulheres, um homem e duas crianças, com dez e três anos de idade aproximadamente. O motorista achou curioso o fato de ninguém levar malas. Segundo ele, a corrida, de pouco mais de 20 minutos, custou R$21. Mas, a pedido do bandido, deu R$1 de desconto para facilitar o troco.

O homem calvo, alto e um pouco forte, segundo o taxista, olhava sempre para a janela. Ele e uma das mulheres conversaram apenas sobre o receio de que a criança menor sentisse dores de ouvido, como já havia ocorrido anteriormente. A PF apurou que um dia antes parte do bando foi ao aeroporto e comprou entre oito e dez passagens, pagando com notas roubadas de R$50.

Além dos empresários José Elizomarte Fernandes Vieira, Francisco Dermival Fernandes Vieira e José Charles Machado de Morais, que estão presos na Polícia Federal, o MPF denunciou à Justiça Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão; Marcos Rogério Machado de Morais, irmão de Charles, identificado como chefe de uma quadrilha do Morro dos Macacos, no Rio, e Tadeu de Souza Matos. Os três estão foragidos.