Título: `O BLOG É UM INSTRUMENTO ESPETACULAR¿
Autor: Jorge Bastos Moreno
Fonte: O Globo, 20/09/2005, Rio, p. 16

Prefeito Cesar Maia anuncia que encerrará no dia 30 seu diário na internet, para ter mais tempo para leitura

BRASÍLIA. O prefeito do Rio, Cesar Maia, anunciou ontem o fim do seu blog (diário eletrônico da internet). O blog, um das mais polêmicas colunas diárias, nasceu em plena crise dos escândalos do mensalão e gerou discussões desde o primeiro dia, tal como a divisão do tempo entre o blogueiro e o prefeito. Entusiasmado com o sucesso do brinquedinho, de prefeito-blogueiro passou a ser chamado de blogueiro-prefeito. Seu blog, uma espécie de terror do mercado financeiro, onde obtém informações exclusivas, deu vários furos jornalísticos. Ele encerra seu blog no dia 30 de setembro, quando o diário completa dois meses e uma semana de existência.

O senhor vai acabar com o blog?

CESAR MAIA: Foi uma experiência exitosa entre os políticos brasileiros. Pensava em levá-la por mais tempo, mas apareceu um problema. Destaco duas horas por dia para leitura substantiva (livros e teses) e quatro horas por dia, sábado e domingo. O blog reduziu meu tempo de leitura à metade e às vezes menos. Tive que optar. Tentei conciliar e não consegui. Por isso encerro dia 30 de setembro. Com tristeza, mas não tenho alternativa.

Como político e líder partidário, seu blog não era imparcial?

CESAR: Blog político não é imparcial. É opinião do politico em tempo real durante o dia, como um diário em tempo real. Tem três vetores: 1) Reedita o noticiário com o foco do político. A reedição dá destaque ao que se quer e faz uma chamada que pré-opina. 2) Opinião. Isso se faz com a própria reedição de notícias e com comentários formais. 3) Informação. O politico durante o dia obtém informações e disponibiliza as que interessa. O blog permite ao político perder a inibição ao comentar a linha adotada pela mídia e tornar seu comentário público.

O senhor tem a média de sua audiência e o controle das pessoas que o acessam?

CESAR: Entradas únicas durante a semana são dez mil por dia. No fim de semana, cinco a seis mil por dia. Mais três mil pessoas inscritas que recebem automaticamente. Mais aquelas que, sendo parte de um mesmo IP, como a redação de um jornal, uma empresa, um ministério ou secretaria, têm que ser somadas, pois o contador só registra uma entrada por IP. Estimo que sejam 15 mil entradas únicas nos dias de semana. E umas 25 mil que entram mais de uma vez. Nos EUA há umas 400 entradas diárias. Nos demais países umas cem. No mercado financeiro relevante, creio que 100% acessa. No Palácio do Planalto há umas cinco entradas por dia. Serra e Zé Dirceu entram. E se somar os multiplicadores, tipo vários leitores de um mesmo jornal, as notícias quentes vão para no mínimo quatro vezes isso.

Como o senhor divide seu tempo?

CESAR: A leitura é que foi prejudicada. Mas o blog não é instrumento de comunicação política para prefeito, governador, presidente e sim para parlamentar. O blog é um instrumento espetacular que espero seja difundido entre nossos deputados e senadores por estado.

No Brasil as pessoas já entendem o sentido e a finalidade dos blogs?

CESAR: Ainda não. Blog não é site, não é rede e não é newsletter. É diário em tempo real durante o dia, com opinião de político que serve de referência para alguns e que tem informação de bastidores.

Por que os internautas, os leitores da internet, são tão agressivos nos seus comentários aos textos dos blogs?

CESAR: No meu caso, retirei o link comentários e disponibilizei dois e-mails. Isso suaviza muito e reduz o número.

O senhor recebe muitas pressões por fazer blog?

CESAR: Quando entrei nos bastidores do mercado financeiro, o fogo foi muito cerrado. Mais que nos bastidores da politica.

O senhor ficaria constrangido se tivesse que fazer críticas à atuação do PFL? O senhor criticaria Jorge Bornhausen e ACM?

CESAR: O blog é opinião de um político com foco. Só em situações com desdobramentos importantes se critica. Fui o primeiro a criticar, ampla e extensamente, o projeto de lei, hoje lei do Senado, de reforma eleitoral via barateamento de custos, cujo autor foi meu presidente.