Título: O MANIFESTO DOS IMORTAIS CONTRA CORRUPÇÃO
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 17/09/2005, O País, p. 5

Intelectuais destacam seu repúdio a atos ilícitos e pedem punição

Dezessete membros da Academia Brasileira de Letras assinaram ontem um manifesto sobre a crise política no país. Ressaltando que não se trata de uma posição institucional da ABL, o texto destaca o repúdio dos escritores à prática de "modalidades ilícitas de apropriação e de emprego de recursos públicos", pede rigorosa apuração dos fatos e punição dos culpados. O documento pede que o presidente da República e os líderes parlamentares e partidários se empenhem para promover uma reforma da legislação eleitoral e política que evite novos escândalos de corrupção no país.

O sociólogo Hélio Jaguaribe, que coordenou o movimento, disse que os intelectuais têm obrigação moral de se manifestar em momentos de crise política como a vivida atualmente no Brasil. Ele explicou que a Academia não pode se posicionar politicamente.

- Estamos vivendo uma situação muito difícil. Como membros da Academia, acho importante manifestarmos preocupação com a situação em termos que não sejam sectários, pró ou contra partidos. Os atos ilícitos precisam ser investigados, e a ocorrência deles demonstra que a legislação dos partidos, do Congresso e eleitoral é deficiente. É preciso uma grande reforma para que esse escândalo não se repita - disse Jaguaribe.

Para a escritora Ana Maria Machado, a sociedade está perplexa e descrente com a crise. Ela acha que os intelectuais têm que refletir e compartilhar o pensamento com todos:

- A novidade está no fato de um grupo de acadêmicos ter feito isso. A ABL sempre foi muito cautelosa e tem a norma de não se manifestar sobre política.

Para Lygia Fagundes Telles, os intelectuais têm obrigação de falar o que pensam em momentos críticos da vida política:

- Não é hora do silêncio dos intelectuais, mas sim da palavra dos intelectuais. Temos a obrigação de nos manifestar numa época dura como essa.

Ana Maria, no entanto, discorda. Para ela, não se pode atrelar o manifesto dos imortais ao discutido silêncio dos intelectuais.

- Não misturaria as coisas. Quando se fala em silêncio dos intelectuais, estão se referindo aos petistas. Que continuam em silêncio - concluiu.

Assinam o documento, os imortais Affonso Arinos, filho; Alberto Venancio Filho; Ana Maria Machado; Antonio Olinto; Carlos Nejar; Cícero Sandroni; Eduardo Portella; Evanildo Bechara; Evaristo de Moraes Filho; Hélio Jaguaribe; Pe. Fernando Bastos de Ávila; José Murilo de Carvalho; Lygia Fagundes Telles; Murilo Melo Filho; Sábato Magaldi; Tarcísio Padilha e Zélia Gattai Amado.

Legenda da foto: JAGUARIBE: "A situação é difícil