Título: Oferta e procura
Autor: Luiz Gonzaga Bertelli
Fonte: O Globo, 17/09/2005, Opinião, p. 6

O Brasil ainda importa da Bolívia 60% do gás natural consumido no país (excluindo-se o consumo próprio da Petrobras) e isso significa que o preço do combustível e matéria-prima acompanha as tendências do mercado internacional. O gás natural é basicamente transportado por dutos - nas formas liqüefeita e comprimida, seu uso permanece limitado devido a elevados investimentos que precisam ser feitos para convertê-lo em tais modalidades. Assim, a oferta também é determinada geograficamente pela capacidade máxima de transporte do gás pelos dutos.

Para diversificar a matriz energética brasileira, o consumo de gás natural recebeu uma série de incentivos no passado recente, e os estímulos deram resultado. Se todas as usinas termelétricas tiverem agora de ser acionadas à máxima potência, não haverá gás suficiente para supri-las, a não ser que se sacrifique outras atividades, como a indústria e o abastecimento de veículos movidos a GNV.

Esse quadro começará a ser alterado quando entrarem em produção os campos descobertos na Bacia de Santos. A curto prazo, será produzido mais gás no Espírito Santo e na Bahia.

O aumento da produção nacional deverá reduzir significativamente a participação relativa do gás da Bolívia na matriz brasileira, de maneira que os preços passarão a refletir características regionais do mercado interno. Porém esse salto de produção só ocorrerá por volta de 2010, quando o desenvolvimento dos campos da Bacia de Santos estiver adiantado.

Até lá, em face da insuficiência da oferta, os preços não ficarão em um patamar que estimule o crescimento acelerado do consumo. Alguns especialistas sugerem que grandes consumidores de gás natural sejam incentivados a se preparar para uso de substitutos, na eventualidade de escassez do produto.

O mercado certamente encontrará seu equilíbrio se as iniciativas de intervenção na oferta e na procura de gás natural forem comedidas.

Mercado depende da entrada em produção de novas áreas

OUTRA OPINIÃO

Preocupação

Com o aumento do preço do gás natural em torno de 18%, em 1º de setembro, visando a mitigar o consumo do combustível gasoso, e as dúvidas quanto à regularidade do fornecimento, ficam descartadas as hipóteses da construção de usinas térmicas para a produção de energia elétrica.

A partir de 1994, o consumo do gás natural cresceu 700% e os preços permaneciam inalterados, desde o início de 2003, visando a estimular o aumento do uso, especialmente nos automóveis (GNV).

Os seus preços são subsidiados pelo governo e o combustível gasoso não recolhe para a Cide, a fim de estimular a demanda.

Diante desse cenário, existe nas indústrias consumidoras séria preocupação com o risco de possível desabastecimento, já que as descobertas de novos reservatórios no país demandam quase uma década para seu desenvolvimento.

O governo brasileiro está fazendo uma avaliação de nova lei boliviana, que prevê aumento de impostos para a produção de gás e petróleo feita pela Petrobras.

Três projetos poderão ser afetados: a ampliação do gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol); a construção do pólo gás-químico na fronteira entre os dois países (parceria com a Braskem) e a construção de um gasoduto que alcançará a Argentina e o Sul brasileiro, o que viabilizará a térmica de Uruguaiana.

A Bolívia possui grandes reservas de gás natural e é a detentora da segunda maior reserva da América do Sul.

Quanto ao Brasil, a nossa reserva seria suficiente para mais de duas décadas.

Tanto a Petrobras como as distribuidoras continuam investindo pesadamente na expansão dos seus serviços e a previsão é a maior disponibilidade de gás natural para os mercados industrial, residencial e comercial, nos próximos anos.

LUIZ GONZAGA BERTELLI é diretor da Divisão de Energia da Fiesp.

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