Título: OCDE: CHINA JÁ É ECONOMIA DE MERCADO
Autor: Gilberto Scofield Jr
Fonte: O Globo, 17/09/2005, Economia, p. 30

Estudo diz que o setor privado já responde por dois terços do PIB chinês

PEQUIM. O diretor para estudos de países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Val Koromzay, afirmou ontem que a China já pode ser considerada uma economia de mercado, levando-se em consideração tanto a evolução na participação do setor privado na economia do país quanto as reformas para enxugamento e modernização do Estado promovidas pelo governo de Pequim nos últimos anos.

Na presença do secretário-geral da OCDE, Donald Johnston, e do vice-presidente da poderosa Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento da China (CNRD), Wang Chunzheng, Koromzay observou que a presença do Estado na economia chinesa ainda é grande, e muito precisa ser feito para tornar o governo mais eficiente. No entanto, destacou que a situação do país, hoje, "se assemelha à da Inglaterra no período pré-Margaret Thatcher".

- O setor privado já responde por cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) da China e, somado às empresas cooperativadas que funcionam dentro das regras de mercado hoje, temos que dois terços da economia do país operam dentro da dinâmica do setor privado. A situação da China se assemelha muito à da Inglaterra no período pré-Margaret Thatcher. E se naquele tempo a Inglaterra já era considerada uma economia de mercado... - disse Koromzay.

Apesar de a China ter passado a integrar a Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001 e, de lá para cá, ter aberto alguns setores de sua economia, tanto os EUA quanto a União Européia (UE) se recusam a declarar o país como economia de mercado pois veriam reduzido, na própria OMC, o seu poder de retaliação no caso de brigas comerciais.

Ao ser indagado sobre a ainda grande presença do governo chinês em setores cruciais para a economia do país, como telecomunicações e finanças, além do controle de elementos fundamentais no jogo de forças do mercado (como a movimentação de mão-de-obra ou o mercado de capitais, só para ficar em dois exemplos), Koromzay afirmou que o governo de Pequim ainda tinha muita coisa para fazer para trazer mais dinamismo e produtividade ao país. Mas considerou exageradas as avaliações do controle da China sobre sua economia.

Numa cerimônia realizada na pomposa Diaoyutai, complexo usado pelo governo chinês para hospedar chefes de Estado em visita a Pequim, a OCDE apresentou ontem o seu primeiro estudo econômico já realizado sobre a China, feito em parceria com a CNRD, subordinada ao Conselho de Estado chinês. O estudo louva as reformas chinesas nos últimos 20 anos.

Nos próximos cinco anos, país será o maior exportador

"A China pode superar os EUA e a Alemanha e se tornar o maior país exportador do mundo em cinco anos, considerando a evolução do setor de comércio exterior do país. Em 2010, os produtos e serviços vão representar 10% do comércio mundial, em contraposição aos 6% de hoje", diz o estudo da OCDE. E a economia do país deve ser a terceira maior do planeta em tempo igual: "O tamanho da economia, quando medida a preços de mercado, já passa a maioria das economias européias e deve ser ultrapassada apenas por três membros da OCDE em cinco anos" (a saber, EUA, Japão e Alemanha).

A abertura para o setor privado e as reformas no Estado foram destacados no estudo como as mudanças que fizeram a China manter taxas de crescimento acima de 9%, em média, nos últimos anos.

- Em contraste, a produção do setor público aumentou apenas 70%. A China ainda possui hoje grandes problemas, como a criação de um sólido sistema de previdência social e a redução das desigualdade - disse Koromzay.

Legenda da foto: CHINESA USA orelhão da estatal China Telecom: setor sob forte controle