Título: EMPREGO E RENDA PARARAM NA INDÚSTRIA EM JULHO
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 17/09/2005, Economia, p. 31

Setores de alimentos e bebidas e material de transportes contrataram, enquanto fábricas de sapato demitiram

O mercado de trabalho na indústria ficou praticamente parado em julho, depois da queda de 0,6% no mês anterior. Na média, não houve abertura de vagas em relação a junho, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada ontem pelo IBGE. A renda do operário registrou ligeira queda, de 0,1%, frente ao mês anterior. Quando se compara o número de trabalhadores em julho ao de dezembro encontra-se um quadro de estagnação que se prolonga por todo o ano. A ocupação caiu 0,2% nessa comparação:

- Mas quando se olha julho em relação ao mesmo mês de 2004, os sinais são positivos. O que indica que o emprego industrial parou no seu nível mais alto - afirma Denise Cordovil, economista da Coordenação de Indústria do IBGE.

Realmente, frente a julho de 2004, o número de vagas cresceu 1,1%. De janeiro a julho contra o mesmo período do ano passado, a taxa também é positiva: 2,1%. E, nos últimos 12 meses, a alta é de 2,8%.

Na segmentação por ramos da indústria, o comportamento é desigual. Beneficiado pelas exportações, o setor de alimentos e bebidas aumentou seu pessoal ocupado em 8,9% frente a julho de 2004.

Economista crê em reação nos próximos meses

A ampliação do crédito levou as indústrias produtoras de material de transporte a empregar mais 8%. Na contramão, as fábricas de calçados e artigos de couro demitiram 14% do pessoal frente a julho do ano passado.

- A concorrência dos importados tem prejudicado esse setor - disse Denise.

Mas o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo de Ávila acredita numa reação nos meses de agosto e setembro. Para ele, em julho a incerteza quanto à queda dos juros (a taxa básica Selic que caiu de 19,75% para 19,50% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária) impediu a criação de vagas em julho:

- Mas esse recuo dos juros já era mais claro em agosto e deve ter levado os empresários a contratarem mais. Além disso, nesses meses, a produção cresce mais carregando o emprego.

Ele também acredita em recuperação da renda real (descontada a inflação) do operário nos próximos meses. As recentes quedas de preços devem recompor os ganhos do trabalhador, na opinião do economista, que também acredita em aumentos nominais nos salários. O movimento não se verificou em julho, quando a renda estagnou (-0,1%) em relação ao mês anterior. É o segundo mês seguido de taxa negativa e o terceiro do ano. Mesmo assim, a folha de pagamento cresceu 3,9% em 2005 e 6,4% nos últimos 12 meses. Na comparação com julho de 2004, também houve alta na renda de 3,1%.

No Rio, a ocupação caiu 0,7%, como vem sendo observado durante todo o ano. Com isso, o quadro ficou 1,1% menor no ano. A folha de pagamento real ficou 10% menor pelo pagamento antecipado para maio de bônus pela Petrobras. Em 2004, o repasse foi feito em julho, o que fez a comparação ser desfavorável este mês.