Título: MUSHARRAF SOB CRÍTICAS POR ATACAR MULHERES
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Fonte: O Globo, 17/09/2005, O Mundo, p. 36

General insinua que estupro no Paquistão é culpa das vítimas

NOVA YORK. O presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, enfrentou ontem uma avalanche de críticas dentro e fora de seu país por afirmar que muitas paquistanesas dizem ter sido estupradas como método fácil de conseguir fazer dinheiro e mudar-se para o Canadá. A frase foi dita em entrevista ao jornal americano "The Washington Post" como justificativa para a alegação de que o Paquistão não deveria ser estigmatizado pelas acusações de que o país tem uma alta incidência de estupros.

"É preciso entender o ambiente no Paquistão... isso se tornou uma forma de fazer dinheiro. Um monte de gente diz que se você quiser ir para o exterior e conseguir um visto para o Canadá ou cidadania e ser um milionário, é só ser estuprada", disse o general ao jornal. O estupro é um problema generalizado nas áreas rurais do país, mas muitas mulheres nem fazem denúncias por causa do estigma social a que ficam submetidas.

A reação foi capitaneada pelo premier do Canadá, Paul Martin, que procurou Musharraf na reunião de cúpula da ONU em Nova York.

- Deixei bem claro que comentários como esse não são aceitáveis e que a violência contra as mulheres também é um flagelo que mancha toda a Humanidade - disse Martin.

Anistia Internacional: "É uma ofensa a todas as mulheres"

Em Londres, o grupo de direitos humanos Anistia Internacional se declarou indignado e criticou o presidente, afirmando que ele deveria pedir desculpas públicas pelo que classificou de comentário insultuoso. "É uma ofensa a todas as mulheres do mundo", afirmou a AI em comunicado.

No Paquistão, o principal jornal de língua inglesa criticou o general no editorial "A coisa errada a dizer". Segundo o "Dawn", "Se esta atitude, de culpar as próprias mulheres pelo estupro e por outros crimes contra mulheres e de ridicularizar as ONGs que levantam o problema, começar a ascender dos mulás ignorantes e dos machistas para permear os escalões superiores do governo, então que Deus nos ajude".

Para tentar minimizar o estrago feito por suas declarações, Musharraf disse que estava expressando uma crença amplamente difundida em seu país e não as suas próprias idéias. O general, no entanto, no início do ano proibiu a ativista antiestupro Mukhtaran Mai de deixar o país para participar de uma conferência de direitos femininos nos Estados Unidos, alegando que o encontro iria prejudicar a imagem do Paquistão no mundo. Mukhtaran ganhou notoriedade ao confrontar homens de sua aldeia, que a estupraram coletivamente a mando do conselho local porque seu irmão tinha se tornado amigo de uma mulher de classe social superior.