Título: OCUPAÇÕES GERAM POLÊMICA NA VENEZUELA
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 17/09/2005, O Mundo, p. 37

Chávez usa lei sobre terras improdutivas para estatizar

BUENOS AIRES. Pouco mais de um ano depois de ter vencido, com mais de 50% dos votos, o referendo sobre a continuidade de sua revolução bolivariana, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lançou uma polêmica campanha que prevê a ocupação de terras e empresas supostamente improdutivas, provocando mais uma acirrada disputa com os empresários. A Fedecamaras, principal federação industrial da Venezuela, rechaçou o que chamou de "a agressão contra a propriedade privada exercida pelo Ministério de Agricultura e Terras e pelo Instituto Nacional de Terras".

Em julho, Chávez antecipou a estratégia de seu governo.

- Assim como não podemos permitir que existam terras ociosas, não podemos permitir que existam empresas ociosas - assegurou ele, em seu programa de TV "Alô Presidente", afirmando que seu governo estava investigando a situação de 1.149 empresas. - Esta é a revolução, este é o socialismo.

Militares ocupam fábricas nacionais e estrangeiras

Nas últimas semanas, o governo ampliou a ofensiva e ordenou a ocupação militar de fábricas que pertencem a importantes companhias nacionais e estrangeiras, entre elas a americana Heinz e a venezuelana Polar, ambas produtoras de alimentos. As autoridades venezuelanas alegam que estão cumprindo as normas previstas na Constituição. A Lei de Terras aprovada no governo Chávez permite ao Executivo assumir o controle de terras, quando forem improdutivas ou seus donos não possuam os títulos de propriedade exigidos pela Justiça. O mesmo critério, dizem os chavistas, deve ser aplicado às empresas.

Representantes da Heinz e da Polar se reuniram com autoridades para tentar um acordo. Na visão de analistas, Chávez decidiu avançar numa nova fase de sua revolução.

- Presenciamos o fortalecimento do perfil ideológico do governo. O presidente decidiu abrir o jogo e enfrentar abertamente o sistema capitalista. Chávez quer uma economia mais estatizada, com mais cooperativas de trabalhadores e menos empresas tipicamente capitalistas - explicou ao GLOBO o analista político Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela.

Para ele, "Chávez está criando um cerco à atividade privada, com fortes controles tributários, cambiais e trabalhistas".