Título: AQUECIMENTO DO PLANETA PODE SE TORNAR IRREVERSÍVEL
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Fonte: O Globo, 17/09/2005, Ciência e Vida, p. 38

Perda maciça de gelo que acontece no Ártico, segundo especialistas, é capaz de descontrolar todo o clima

LONDRES. O acelerado e maciço derretimento de gelo registrado no Ártico e na Groenlândia pode tornar o aquecimento global um fenômeno irreversível, alertaram ontem pesquisadores britânicos em reportagem do jornal "The Independent". O gelo, segundo eles, derrete no verão e se solidifica no inverno. Nos últimos anos, no entanto, a recuperação do gelo tem sido muito menor do que a quantidade derretida.

Com o derretimento em maior escala, o nível do mar sobe em todo o planeta e aumenta a temperatura dos oceanos, elevando ainda mais a temperatura global. Trata-se de um ciclo que os cientistas temem tomar proporções e rapidez antes jamais imaginadas.

- Estamos cada vez mais próximos de um ponto irreversível. O derretimento provocado pelo aquecimento se torna a causa de mais aquecimento. As conseqüências disso podem ser desastrosas - afirmou o pesquisador Mark Serreze, coordenador de um estudo que envolve diversas instituições britânicas.

Nível do gelo é 18,2% menor do que o normal no Ártico

De acordo com Serreze, imagens feitas por satélite mostram que o nível de gelo no Ártico e na Groenlândia é 18,2% menor do que a média para esta época do ano, o menor índice já registrado.

- O baixo nível de gelo registrado em 2002 não foi recuperado nos invernos de 2003 e 2004 e isso deve servir de alerta - explicou.

O efeito imediato do aumento do nível dos oceanos provocado pelo derretimento, segundo Serreze, é o alagamento de regiões costeiras e até mesmo o desaparecimento de pequenas ilhas e áreas mais baixas que o nível do mar. Mas outros fenômenos, como furacões e tempestades mais intensos, também estão na lista de prováveis mudanças:

- Estamos falando de um cenário catastrófico, com bruscas alterações de temperatura, tempestades, alagamentos e o pior é que estamos bem perto de não conseguirmos reverter esse quadro.

Camada de ozônio também se deteriora rápido

Normalmente, a camada de gelo que cobre o Ártico e a Groenlândia tem sete milhões de quilômetros quadrados de extensão, o equivalente ao território da Austrália. Em 2002, a superfície congelada já era de apenas 5,2 milhões de quilômetros.

O derretimento do gelo ártico não é, no entanto, o único problema ambiental referente ao aquecimento global que se acentuou este ano. Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) mostram que o buraco na camada de ozônio no outro pólo, a Antártica, está próximo de atingir o tamanho de 2002: 28 milhões de quilômetros quadrados, o máximo já registrado pelos pesquisadores.

Segundo o pesquisador Geir Braathen, do Departamento de Investigação Atmosférica da OMM, o dado mostra que as políticas de diminuição de gases atmosféricos estão se mostrando ineficientes.

- O Protocolo de Montreal, ratificado em 1987, previa que a diminuição da emissão de gases responsáveis pela destruição da camada de ozônio fizesse com que em 2050 a proteção estivesse totalmente recuperada. O que vemos agora é um perigoso retrocesso, que pode ter graves conseqüências - alertou.

Legenda da foto: UM ICEBERG na Groenlândia: especialistas dizem que derretimento acelerado pode fazer com que aquecimento global se torne irreversível