Título: Queda na receita deve encolher área plantada do país em até 7,5%
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 20/09/2005, Economia, p. 22

Câmbio provocou perda de R$13 bilhões para agricultores este ano

Os preços agrícolas caíram continuamente, nos últimos meses, contribuindo fortemente para o controle da inflação. Entretanto, o setor poderá virar vilão em 2006, se a previsão de redução da área plantada de grãos se traduzir em diminuição da oferta, principalmente, de soja, arroz, algodão e trigo no ano que vem. De acordo com o Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, a combinação de perda de receita ¿ de R$13 bilhões ¿ com aumento dos custos está gerando crise no campo, com impacto sobre a cadeia produtiva.

A previsão do ministério para a safra de grãos de 2005/2006, que começa a ser plantada no mês que vem, é de queda de 5% na área plantada. Mas pode ser maior: a consultoria Agroconsult estima que só na safra de verão a retração chegue a 7,5%. As maiores diminuições serão nas culturas de arroz (19,9%), algodão (15%) e soja (11,4%), informa a Agroconsult. A área de trigo também deve ser reduzida em 18%.

Juro alto também elevou os custos dos agricultores

Segundo Wedekin, 83% da perda de renda de R$13 bilhões foram provocados pela queda dos preços no mercado internacional e pela valorização do real frente ao dólar ¿ quando os produtores plantaram, o câmbio médio era de R$3, mas quando colheram estava em R$2,40. Os juros altos também tiveram impacto sobre os custos. Sem renda, houve redução da capacidade de pagamento e de investimentos.

Além da retração nas vendas de máquinas e equipamentos (as de colheitadeiras e tratores caíram 37,7% no ano) e fertilizantes (queda de 27,9% até junho), trabalhadores estão sendo dispensados nas cidades que vivem da agricultura.

¿ Nosso município é o segundo maior produtor de soja do país. Mas a área plantada, normalmente de 400 mil hectares, deve cair 15%. E a de algodão, que chegava a 27 mil hectares, deve diminuir até 50% ¿ afirma o prefeito Jesus José Cassol, de Campo Novo do Parecis, 380 km de Cuiabá.

De acordo com Cassol, o comércio local já começa a sentir a queda na renda e o número de pessoas desocupadas procurando a ação social do município está crescendo.

O mesmo está acontecendo em Catalão, a 250 km de Goiânia, em Goiás. A Agrofava Sementes vai reduzir em 8% sua área plantada de soja e em 50% a de algodão. A empresa tem de 15% a 20% do mercado de sementes do estado e, segundo o agrônomo José Fava Neto, às vésperas do início do plantio, só vendeu 50% do total esperado. Na mesma cidade, o proprietário da Soma Agrícola, uma das maiores revendedoras de insumos do Sudeste do estado, disse que ainda não recebeu 30% dos créditos concedidos no ano passado.

¿ A Pesquisa Mensal de Emprego, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só abrange os grandes centros urbanos, não capta o que acontece no interior ¿ destaca o diretor da Agroconsult, André Pessoa.

Aumenta o desemprego na área rural de cidade baiana

O Sindicato Rural de Luiz Eduardo Magalhães, cidade baiana a 900 km de Salvador, confirma que a queda da renda agrícola está provocando desemprego na área rural:

¿ Toda a cadeia produtiva do agronegócio está sendo afetada ¿ diz ele.

Para Pessoa, mantidos os atuais níveis de câmbio e juros, a agricultura sofrerá uma crise com reflexos mais profundos sobre o nível de atividade no interior do país. E deixará de contribuir para o controle da inflação e para o saldo balança comercial.