Título: GUERRA DE CHANCELERES
Autor: Graça Magalhães
Fonte: O Globo, 20/09/2005, O Mundo, p. 26

Tensa, Alemanha espera Schroeder ou Merkel conseguir formar coalizão de governo

O duelo entre o chanceler Gerhard Schroeder, do Partido Social-Democrata (SPD), e a candidata da oposição, Angela Merkel, da União Democrata-Cristã/União Social-Cristã (CDU/CSU), entrou ontem na segunda fase, com uma guerra de nervos entre os dois políticos, uma disputa inédita na história da Alemanha. Mesmo depois da divulgação dos resultados das eleições do último domingo, que não dão a nenhum dos blocos partidários a maioria de governo, Schroeder e Merkel continuam reivindicando o poder.

A insegurança política fez o índice da Bolsa de Frankfurt cair vários pontos e pôs em estado de alerta também os líderes da economia do país.

¿ Se o impasse político não for resolvido dentro de quatro semanas, o que prevê a lei para a formação de um governo depois das eleições, a Alemanha poderá sofrer uma queda de crescimento econômico ¿ disse Friedrich Heinemann, do Instituto Europeu de Pesquisa Econômica.

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, apelou para que os partidos alemães chegassem a um consenso, para que a Alemanha possa voltar a ser a ¿locomotiva¿ (econômica) da Europa.

Mas as chances de um consenso entre os partidos para a formação de um novo governo são as mais difíceis possíveis.

¿ Em última análise, o presidente poderá convocar novas eleições ¿ disse Peter Loesche, da Universidade de Goettingen, referindo-se a uma medida que o presidente Horst Koehler já antecipou que vai tomar no caso de impasse.

Uma das opções cogitadas, a ¿grande coalizão¿, está no momento bloqueada pela posição firme de Schroeder e Merkel de só aceitarem tal arranjo se ficarem com o poder para si, quer dizer, ficarem com o cargo de chanceler federal.

¿ Uma participação do SPD no governo só será possível com um chanceler Schroeder ¿ disse ontem Franz Müntefering, presidente do SPD, referindo-se à possibilidade de uma ¿grande coalizão¿.

Müntefering voltou a alegar que o SPD foi o partido com o melhor resultado, já que a CDU/CSU é uma aliança de dois partidos. Sozinha, a CDU ocupa o segundo lugar, depois do SPD. A CDU existe em toda a Alemanha, menos na Baviera, onde é representada pela CSU.

Merkel pressionada por Schroeder e pela CDU

Merkel afirmou que tem outra lógica e vê o seu partido como o mais bem sucedido, pois tem três deputados a mais do que o SPD. A CDU/CSU começou ontem a fazer sondagens sobre o difícil processo de formar uma coalizão de governo.

¿ Precisamos conversar e ver o que é possível, falar com todos os partidos, menos com os comunistas ¿ disse Jürgen Rüttgers, governador da Renânia do Norte-Vestfália, que faz parte da presidência da CDU.

Uma outra opção, chamada de ¿coalizão Jamaica¿ (por reunir as cores de partidos iguais às da bandeira da Jamaica), está sendo estudada pela CDU/CSU (preto) e pelo partido liberal (FDP, amarelo) mas é recusada até agora pelos verdes (verde). Enquanto o bloco conservador liberal defende a energia nuclear, os verdes conseguiram durante o governo com o SPD nos últimos sete anos o fim do uso da energia atômica e o fechamento de usinas.

A outra aliança possível, do SPD/verdes com o FDP, foi ontem novamente recusada pelo partido liberal.

¿ O FDP não tem nada em comum com os verdes ¿ enfatizou o político Otto Fricke.

Christian Stroebele, do Partido Verde, advertiu ontem que se o partido entrar na aventura de apoiar um partido neoliberal a favor da energia nuclear corre o risco de ¿afundar no Triângulo das Bermudas¿.

A candidata conservadora, Angela Merkel, é pressionada dos dois lados ¿ por Schroeder e pelo próprio partido, que a critica, por enquanto em silêncio ¿ por ter transformado uma maioria absoluta prevista em junho em um resultado medíocre. Mas a presidência do partido resolveu adiar a prestação de contas. Hoje (terça) Merkel tenta ser reeleita chefe da bancada da CDU/CSU para poder negociar com mais poderes a coalizão de governo.

Já Gerhard Schroeder não abriu ainda mão do seu ar de vitória. Ele voltou a ser visto pelo partido como um herói (por ter transformado uma derrota inevitável numa situação quase de empate) e recebe oferta de apoio dos intelectuais alemães.

¿ Schroeder deve ficar no poder, mesmo que seja com o apoio dos liberais ¿ disse o escritor Günter Grass, que participou de comícios com Schroeder durante a campanha.

Ja o diretor de teatro Jürgen Flimm disse: ¿Assim poderia ser chamado um western com Gerhard Schroeder no papel principal: `Arriscou tudo e ganhou tudo¿¿.

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