Título: Disputa à vista
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 21/09/2005, O Globo, p. 2

Começa mal o jogo para a sucessão de Severino Cavalcanti. Já se contavam ontem 11 postulantes. São grandes as possibilidades de uma disputa entre um candidato da oposição e um da base governista. E, com isso, começou a existir também a hipótese de aparecer um candidato do baixo clero, como o pupilo de Severino, Ciro Nogueira, que tenta se colocar na disputa.

O chamado movimento Câmara Forte, que em fevereiro lançou a candidatura avulsa do petista Virgílio Guimarães, também ameaça repetir a dose.

Entre os grandes, o nome do deputado Michel Temer, que havia crescido como uma espécie de candidato "para todos", acabou perdendo força diante da aposta do PFL, com apoio dos tucanos e do PPS, no nome de José Thomaz Nonô, atual primeiro-vice-presidente da Casa. Os tucanos têm o nome de Jutahy Júnior para começo de conversa mas já deram a entender que poderão retirá-lo para apoiar Nonô. Roberto Freire, do PPS, pôs mais uma carta neste jogo sugerindo que, com a eleição de Nonô, seu cargo atual seja destinado a um nome do PT, que ficou fora da Mesa ao perder a presidência para Severino em fevereiro. Mas o deputado pefelista César Bandeira avisou que disputará este cargo, nem que seja como candidato avulso. Ou seja, o quadro começa a ficar parecido com o de fevereiro.

Já em desvantagem, diante do avanço da oposição, o Planalto diz oficialmente que o governo e o presidente não vão se meter na sucessão, mas toda a movimentação aponta para o lançamento de um candidato da base governista, não necessariamente do PT, para enfrentar o da oposição. No PT há Paulo Delgado, Sigmaringa Seixas e Eduardo Cardozo, nomes que a própria oposição não veta. E há simpatias palacianas pelos ex-ministros Aldo Rebelo (PCdoB) e Eduardo Campos (PSB). Quem tem tantos, não tem nenhum, e o PT já viu este filme antes. Perdeu terreno com demonstrações de consideração para com Severino, esperando a prova para pedir seu afastamento. E continua perdendo agora, com indefinições.

Mas consumada hoje a renúncia de Severino, os dois lados vão apresentar armas. E o mais provável é que partam para a disputa, pois se tivesse de haver entendimento, já estariam procurando por ele. Com disputa, candidatos de si mesmos, de outros grupos e do baixo clero podem se animar. Este perigo não existe, garantem líderes dos partidões, do governo e da oposição. Se tal situação se apresentar, um terceiro nome que contente os dois lados deverá ser então procurado. Seria a chance de Michel Temer, que foi muito bem aceito no início mas começou a enfrentar restrições diversas. Do fato de o PMDB já comandar o Senado ao apoio recebido do ex-governador Garotinho anteontem.

Os nobres deputados, pelo visto, puseram de lado o propalado desprendimento tão logo se tornou concreta a vacância da presidência da Câmara.