Título: Severino chora e se prepara para voltar a João Alfredo após a renúncia
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 21/09/2005, O País, p. 4

No mesmo dia ele começará a campanha para tentar se eleger em 2006

BRASÍLIA. Decidido a renunciar ao mandato hoje e, conseqüentemente, à presidência da Câmara, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) recebeu aliados ontem e não conseguiu esconder o abatimento. Ao mesmo tempo que parecia sereno, retirava-se para um canto, cobria o rosto com as mãos e chorava muito.

Dona Amélia, sua mulher, confortou o marido e pediu que tudo acabe o mais rapidamente possível. Ainda assim Severino está decidido: depois que fizer o discurso de despedida no plenário, parte para João Alfredo, em Pernambuco, onde será recebido com uma festa preparada por 17 prefeitos aliados. O ato marcará o início de sua campanha para tentar se eleger deputado federal em 2006.

Discurso não deve ter ataques

Severino quer percorrer todo o estado e tentar se mostrar como um nordestino que chegou ao terceiro posto mais importante da República mas teve de renunciar "para limpar sua honra e a de sua família na Justiça". No discurso, não deve atacar adversários Vai destacar como ponto alto de sua gestão, numa das maiores derrotas do governo Lula, a aprovação de uma versão mais popular da MP 232, que previa, no texto original, aumento de impostos para prestadores de serviço.

Também vai dizer que ele, Severino, é o retrato da maioria dos parlamentares da Casa e que entrou na política com algum patrimônio e saiu pobre. Dirá que tinha 13 lojas de eletrodomésticos, mas que perdeu tudo com a política, até mesmo a herança da mulher. E que agora terá uma aposentadoria de ex-deputado estadual de R$6 mil.

- Vi hoje um homem que viveu momentos de glória e está montando sua estratégia para se defender depois da desgraça que o abateu. Não digo que esteja conformado, mas depois que se decidiu pela renúncia, está mais sereno. Vai se defender na Justiça e, de João Alfredo, articular com seus prefeitos a volta - contou o terceiro-secretário Eduardo Gomes (PSDB-TO).

Severino pouco falou do encontro com Lula na véspera e estranhou que o presidente tivesse ficado tão calado na conversa.

- Ele contou que Lula disse que faz questão de não se envolver no caso, mas que a amizade dos dois continua, que também é um emblema do Nordeste e que vai fazer o possível para manter o PP na base - relatou o deputado Feu Rosa (PP-ES).

- A única coisa que ele pediu ao Lula é que o PP não seja prejudicado - disse o deputado Simão Sessim (PP-RJ).

Aos que perguntavam a Severino por que fazia tanta questão de se encontrar com Lula antes da renúncia, uma explicação:

- Eu ia lá no Palácio toda semana discutir as crises alheias, por que agora não poderia ir lá discutir a minha própria crise?

Dona Amélia, a todos que chegavam, repetia:

- Meu marido é honesto e não fez nada disso.

Segundo o quarto-secretário da Câmara, João Caldas (Pl-AL), Severino não chega a fazer um "mea culpa" dos erros que cometeu como presidente da Câmara. Mas admite que não estaria enfrentando essa situação se tivesse organizado um grupo de profissionais para assessorá-lo.

- Faltou sensibilidade política. Ele pecou por não se cercar de uma equipe eficiente.

O discurso de Severino, formalizando sua renúncia ao mandato, está previsto para as 16h. Depois ele faz a mudança de volta para Pernambuco.

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Legenda da foto: SEVERINO RECEBE abraço da deputada Suely Campos (PP-RR)