Título: DECISÃO DE JEFFERSON ESPANTA ALIADOS
Autor: Maria Lima/Evandro Éboli/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 21/09/2005, O País, p. 9

Também na oposição ninguém entende estratégia do ex-deputado

BRASÍLIA. A decisão do ex-deputado Roberto Jefferson (RJ) de pedir ao PTB para retirar as representações ao Conselho de Ética contra os deputados José Dirceu (PT-SP) e Sandro Mabel (PL-GO) surpreendeu adversários e aliados, mas principalmente a cúpula do partido. Ainda ontem, quatro dias depois de Jefferson ter anunciado sua intenção, petebistas não sabiam explicar os motivos dele.

Parlamentares próximos do petebista viram no gesto uma forma de tentar se manter nos holofotes, já que Jefferson perdeu a tribuna da Câmara e o espaço no partido. O presidente do PTB, Flávio Martinez, não escondeu o espanto.

- Fiquei surpreso quando ele me falou que queria retirar as representações. Como ele acaba de ser cassado, a lógica passa a não ser mais a da razão. Ele argumentou que não queria ser massa de manobra de outros partidos que votaram contra ele. Jefferson explicou que estava sendo usado e por isso pediu para retirar o pedido do Conselho.

Em entrevistas nos últimos dias, Jefferson disse que queria cancelar a representação por acreditar existir um acordo entre PT, PFL e PSDB para cassar apenas os mandatos dele e de Dirceu e salvar os outros 15 deputados acusados de envolvimento com o mensalão. A justificativa não convence. Até parlamentares próximos de Jefferson desconfiam do argumento.

- Ninguém sabe o que Jefferson quis. Às vezes, ele toma decisões que não têm lógica e acaba surpreendendo - disse Newton Capixaba (PTB-RO).

- Não entendi nada! - reforçou o deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) ao ser perguntado sobre as motivações de Jefferson.

Enquanto os petebistas demonstravam perplexidade, deputados de outros partidos continuavam levantavam suspeitas sobre a motivação de Roberto Jefferson. A tentativa do ex-deputado de não ficar no ostracismo foi apontada por alguns.

Há quem tenha visto também no gesto dele uma tentativa de reconstruir pontes políticas, pensando inclusive numa eventual candidatura da filha, a vereadora Cristiane Brasil, para a Câmara dos Deputados.

"A surpresa desse anúncio cheira a acordão"

Os adversários foram contundentes ao condenar o comportamento de Jefferson. Para Chico Alencar (PT-RJ), permanece um "cheiro de acordão" na iniciativa do ex-deputado.

- O gesto de Jefferson é a demonstração de uma politicagem rasteira em que se retira uma denúncia de acordo com a conveniência. A surpresa desse anúncio cheira a acordão. Jefferson está morto politicamente. Mas quer continuar criando fatos - criticou Chico Alencar.