Título: IGREJA ACUSADA DE ESCONDER CRIMINOSO DE GUERRA
Autor: Stephen Castle
Fonte: O Globo, 21/09/2005, O Mundo, p. 29

Principal promotora do Tribunal Penal Internacional da ONU diz que ex-general croata está protegido em monastério franciscano

BRUXELAS. A principal promotora do Tribunal Penal Internacional da ONU para a ex-Iugoslávia (TPI), Carla del Ponte, colocou-se no centro de uma crise diplomática com o Vaticano ontem, depois de afirmar que a Igreja Católica está escondendo o homem mais procurado da Croácia. Del Ponte provocou reações exaltadas em Roma e em Zagreb ao dizer que Ante Gotovina, um ex-general indiciado por crimes de guerra, está escondido num monastério na Croácia.

Seus comentários foram feitos num momento delicado, já que a candidatura para entrada da Croácia na União Européia será reexaminada nas próximas semanas. As ambições de Zagreb foram paralisadas até que a UE considere que as autoridades croatas estão dando total apoio ao tribunal da ONU.

A promotora ressaltou a responsabilidade da Igreja, e não do Estado do Vaticano, na tentativa de encobrir Gotovina, mas seus comentários também contradizem as afirmações do governo croata de que o general não está no país.

Del Ponte disse com todas as letras ao jornal "Daily Telegraph" que tem informações de que Gotovina "está se escondendo num monastério franciscano e, assim, a Igreja Católica o está protegendo", disse. "Levei estes dados para o Vaticano e este se recusou totalmente a cooperar conosco". Ela acrescentou que o Vaticano poderia indicar exatamente em qual dos 80 monastérios da Croácia Gotovina está protegido "em questão de dias."

Joaquín Navarro-Valls, o porta-voz do Vaticano, disse que o arcebispo Giovanni Lajolo, funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano, pediu à promotora indícios sobre o paradeiro de Gotovina, mas que não teve resposta. Ele acrescentou que Del Ponte está tentando, de maneira imprópria, usar o Vaticano como uma ferramenta da lei.

Anton Suljic, porta-voz da Conferência dos Bispos de Croácia, afirmou que os líderes da Igreja Católica na Croácia "não têm qualquer tipo de informação em relação ao paradeiro do fugitivo general Gotovina."

O primeiro-ministro croata, Ivo Sanader, reiterou ontem que "com base em todas as informações que recebemos, Gotovina não está na Croácia."

Gotovina é acusado de massacre de 150 civis sérvios

A porta-voz da promotoria do tribunal, Florence Hartmann, discorda:

- Estamos pedindo a colaboração total de cada segmento da sociedade: a Igreja, os militares, os políticos. Cada um deles é obrigado a respeitar a lei. Ninguém está acima da lei e estamos pedindo a cooperação de todos.

O general Gotovina é acusado de ter comandado a morte de pelo menos 150 civis sérvios e a expulsão de 150 mil durante a operação contra os sérvios de Krajina em 1995. Mas muitos na Croácia o consideram um herói.

Legenda da foto: GOTOVINA: ex-general fugitivo