Título: Duelo marcado
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 24/09/2005, O Globo, p. 2

A disputa da presidência da Câmara agora está polarizada entre o candidato da oposição, Thomaz Nonô, e o da base governista, Aldo Rebelo. Tudo indica que eles disputarão na madrugada de quarta-feira próxima um ardente segundo turno, que poderá ser decidido por forças secundárias, como o baixo clero, a ala oposicionista do PMDB e os pequenos partidos.

Até segunda-feira estará confirmado o erro ou o acerto do governo ao lançar a candidatura de Aldo, em substituição à do líder Arlindo Chinaglia, que naufragou em 24 horas por não ter conseguido unir a base governista. Para um PT sempre acusado de só jogar com nomes próprios e nunca ceder a vez, foi um avanço. Mas há quem veja no lançamento de Aldo mais um erro na seqüência dos tantos já cometidos por PT e governo. Pois se Aldo não conseguir agregar apoios suficientes para chegar ao segundo turno, a disputa pode até acabar sendo entre Nonô e um nome do baixo clero, como o severinista Ciro Nogueira.

Na decolagem o ex-ministro saiu-se bem melhor que Chinaglia, a começar pelo apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros, líder da ala governista do PMDB. Aldo uniu PT, PCdoB e PSB, embora enfrente resistências aqui e ali entre os petistas. Mas já incomodou a oposição, que o aponta como candidato do Planalto. O líder da minoria, José Carlos Aleluia, apontou o fato de ter testemunhado a favor de Dirceu no Conselho de Ética como um impedimento, já que o novo presidente da Câmara dirigirá as sessões de cassação.

Fora do segundo turno é difícil que Aldo fique mas para ganhar teria que ampliá-lo mais dentro do que já foi a base governista. A primeira ameaça vem de um magoado Michel Temer, do PMDB, que se julga abandonado pelo governo e traído por Renan. Ontem ele recebeu um telefonema de Nonô. Era para um cumprimento de aniversário mas acabaram marcando outra conversa. Em pauta, uma eventual desistência de Temer a favor do pefelista Nonô. Partidos com o PDT, o PV e o PPS devem se decidir por Nonô ainda no primeiro turno.

Outra dúvida, para onde irá o PP, que tem dois candidatos, Francisco Dornelles e Ciro Nogueira. Trabalha-se para que o segundo saia e apóie Dornelles, outra opção que, como a de Temer, o governo perdeu a oportunidade de patrocinar como candidato de entendimento institucional. Unido, o PP não irá para o segundo turno mas ali se diz que a maioria ficaria com Nonô. Por fim, o PTB lançou Fleury Filho, para marcar posição. Num segundo turno, dificilmente ficaria com o candidato do governo que Roberto Jefferson levou às cordas.

Entre os petistas, ouve-se que não poderiam ter feito um acordo que humilhasse o PT. Certamente isso vale para as hipóteses de apoio a Temer e a Dornelles ou mesmo a Nonô, antes de sua candidatura ter assumido a marca oposicionista. Humilhação maior, entretanto, é sempre a derrota. Se governo e oposição tivessem se entendido em torno de um nome comum, levando em conta apenas as necessidades da Casa, a eleição seria outra, não estaria marcado este duelo que novamente deixará seqüelas. Qualquer que seja o resultado, o ambiente na Câmara continua radicalizado, altamente contaminado pela sucessão presidencial.