Título: PARA OPOSIÇÃO, CANDIDATURA GOVERNISTA É UM ERRO
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 24/09/2005, O País, p. 8

O governo errou ao preterir Temer. Seria um candidato fortíssimo¿, diz líder da minoria

BRASÍLIA e CURITIBA. Líderes dos partidos de oposição no Congresso consideravam ontem que a estratégia do Palácio do Planalto de lançar a candidatura do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à presidência da Câmara pode ter efeito contrário. Primeiro, porque o governo dividiu o PMDB, ao preterir a candidatura de Michel Temer (SP), o que poderá, na avaliação da oposição, render votos para o pefelista José Thomaz Nonô (AL). Segundo, porque contrariou petistas e não agregou outros partidos da base aliada.

¿ O governo errou ao preterir Temer. Seria um candidato fortíssimo, mas o presidente Lula teria vetado seu nome, criando uma polarização entre a independência da Câmara e a submissão ao governo ¿ disse o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA). ¿ A candidatura de Aldo mostra que o governo decidiu comandar a Câmara sem intermediário, já que pôs seu ex-coordenador político como candidato.

Embora ressalve que Aldo é um homem de bem e que tem um passado que não pode ser atacado, Aleluia considerou inusitado que o deputado, arrolado como testemunha de defesa do deputado José Dirceu (PT-SP) no Conselho de Ética, possa acabar presidindo o julgamento do ex-ministro no plenário da Câmara.

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) já considera assegurada a presença de Nonô no segundo turno e aposta na adesão de boa parte do PMDB, diante do racha provocado pela ação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em favor de Aldo, que pode levar à renúncia de Temer.

¿ Nossa expectativa é que metade da bancada do PMDB fique conosco ¿ disse Paes.

No PMDB, houve surpresa e indignação com a candidatura de Aldo. A avaliação do grupo que sustenta Temer é a de que Renan se lançou numa aventura pessoal ao se descolar do partido, movido por razões regionais, quando tenta dificultar a eleição de Nonô, um adversário dele em Alagoas.

Para o ex-líder Geddel Vieira Lima (BA), Aldo terá muitos problemas para se viabilizar.

¿ É uma candidatura natimorta. Surge como fruto de sucessivas traições. Mas Temer tem recebido a solidariedade de muitos colegas. Quem tem o que perder é que deve estar nervoso ¿ provocou Geddel.

O deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) informou que até a véspera da eleição Temer continua candidato.

No PFL, a expectativa é que Temer desista:

¿ Espero que voltemos a ter o apoio do PMDB. Seria um reforço a nosso projeto ¿ disse o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), confessou que não compreendeu bem a estratégia do governo ao lançar Aldo. Mas garantiu que os tucanos votarão em Nonô.

Freire diz que PPS não apoiará candidatura de Aldo

O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), rebateu Aleluia. Disse que a candidatura de Aldo é uma reação à estratégia da oposição de tentar ¿torpedear e impedir¿ o retorno do PT à Mesa Diretora. E classificou de desrespeitosa a suposição de que Aldo não teria isenção para presidir a Câmara.

¿ É uma avaliação não se pauta pelo equilíbrio que devemos ter neste momento.

O líder do PT disse ainda que a candidatura da base aliada vai sair vencedora na quarta-feira que vem.

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, anunciou que o partido não vai apoiar o candidato do governo à presidência da Câmara, Aldo Rebelo. Mostrando irritação com o nome que julga ser um equívoco, Freire alegou que a Câmara precisa retomar a confiança perdida com o escândalo do mensalão.

¿ Aldo Rebelo era o articulador político desse governo e que viabilizou esse tipo de relacionamento promíscuo de compra de parlamentares. Ao desmascarar o esquema do mensalão, todos que estiveram minimamente envolvidos, mesmo que não tenham tido participação direta, não podem ser premiados.

Para ele, o governo está cometendo outro erro no processo de sucessão de Severino Cavalcanti. A sugestão de Freire, que ainda não foi acolhida pelo partido, é a candidatura de Thomaz Nonô.