Título: Cidade sob as águas
Autor:
Fonte: O Globo, 24/09/2005, Rio, p. 16

Sistema de alerta falha e tempestade provoca caos num Rio despreparado

Um temporal típico de verão em plena primavera pegou ontem de surpresa a cidade ¿ que se mostrou despreparada para enfrentar a chuva forte¿ e os órgãos e sistemas de alerta que deveriam avisar a população sobre a chegada da tempestade. O aguaceiro, que durou menos de meia hora, foi provocadio por um ciclone extratropical e atingiu dez bairros, principalmente na Zona Sul e na Tijuca, onde foram registrados ventos de até 50 Km/h. O Instituto Nacional de Meterologia (Inmet) e o Sistema Alerta-Rio, que faz previsões do tempo para a prefeitura, detectaram a possibilidade de chuvas fortes com cerca de 1 hora de antecedência. Mas não emitiram os alertas meteorológicos a tempo.

¿ Eu digitava o alerta para os órgãos de imprensa quando começou a chover. Mesmo assim, mandei o aviso ¿ disse a meteorologista Marlene Leal do Inmet.

Marlene acrescentou que o fenômeno só pôde ser detectado entre 8h45m e 9h, por fotos de satélites. O temporal desabou por volta das 10h.

Os meterologistas do Sistema Alerta-Rio alegam que enfrentaram dificuldades para confirmar a chegada da tempestade. Eles disseram que o radar meteorológico da Aeronáutica no Pico do Couto (Petrópolis), que poderia prever a chegada da tempestade com 3 horas de antecedência, está desativado desde 16 de agosto para reparos.

¿ Outro recurso importante seriam os satélites meteorológicos. Mas não tínhamos imagens atualizadas disponíveis porque eles monitoravam a chegada do furacão Rita ao Texas ¿ explicou a meteorologista Priscila Luz, do Alerta-Rio.

O Alerta-Rio informou ter identificado a formação da tempestade por equipamentos que detectam raios e avisou à Defesa Civil do Município por volta das 8h30m. O órgão mobilizou equipes de emergência da prefeitura, mas não emitiu qualquer aviso meteorológico aos órgãos de imprensa, para que moradores de áreas de risco fossem informados.

Defesa Civil foi avisada, mas não informou à população

O coordenador da Defesa Civil, coronel João Carlos Mariano, disse que não emitiu o alerta porque não havia certeza da chegada da tempestade, embora os órgãos da prefeitura estivessem em estado de atenção:

¿ Não considero que houve falhas porque era impossível divulgar a chegada da tempestade com antecedência. Mas o sistema pode ser aperfeiçoado com a divulgação de alertas mesmo que a previsão seja para um período curto de tempo ¿ disse.

A Avenida Niemeyer ficou interditada por uma hora e dez minutos devido à queda de 2,5 toneladas de entulho e terra, após o desabamento do muro de uma casa. O trânsito ficou congestionado na Lagoa-Barra e na Zona Sul durante o resto da manhã. Em Botafogo, Glória e Catete várias ruas e casas ficaram alagadas. A Secretaria municipal de Obras atribuiu o alagamento das ruas à chuva forte em curto período. A presidente da Associação de Moradores de Botafogo, Regina Chiaradia, concorda em parte:

¿ Em Botafogo, desceu muito lixo dos morros.

Na Rua São Miguel, na Tijuca, o trânsito ficou interrompido por 15 toneladas de lama que desceram do Morro do Borel. O Aeroporto Santos Dumont esteve fechado por 45 minutos. À tarde, a enxurrada causou estragos em Macaé e na Região dos Lagos.

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