Título: Diretor da PF admite disputa interna no Rio
Autor: Célia Costa e Dimmi Amora
Fonte: O Globo, 24/09/2005, Rio, p. 20

Paulo Lacerda diz que roubo de R$2 milhões pode ter tido a intenção de desestabilizar superintendência

O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, reconheceu a existência de uma disputa de grupos dentro da superintendência do Rio. Lacerda, que chegou à cidade para acompanhar as investigações do roubo de mais R$2 milhões na sede da PF, na Praça Mauá, disse acreditar que o crime tenha dois ingredientes: oportunismo e motivação política.

O superintendente da PF do Rio, José Milton Rodrigues, que estava na Alemanha, deve chegar hoje. Depois de amanhã, ele retoma os trabalhos na sede, mas está previsto que se encontre no fim de semana com o diretor-geral.

¿ A existência de grupos disputando internamente vai nos levar a conversar com o José Milton. Teremos que melhorar nossos controles ¿ disse Paulo Lacerda.

Impressões digitais colhidas na sala são analisadas

A fama de manter sigilo absoluto nas investigações não é à toa. Durante uma entrevista coletiva que durou quase uma hora, Paulo Lacerda não deu uma informação concreta das investigações. Disse que foram identificados policiais suspeitos, mas não revelou quantos. Acrescentou que há várias hipóteses e linhas de investigação, mas não detalhou nenhuma. Lacerda disse apenas que em breve a PF apresentará a solução do caso.

Segundo o diretor, existem muitas impressões digitais na área que foi arrombada na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Elas estão sendo confrontadas com o banco de digitais da PF. Os trabalhos estão sendo feitos em Brasília. Há pelo menos 30 policiais investigando o caso.

¿ Temos que comparar agora as digitais encontradas com as de quem estava de plantão ¿ disse o diretor, que também achou suspeito o fato de servidores que não estavam trabalhando terem entrado na PF no fim de semana do roubo.

Uma das hipóteses que fazem parte da investigação é de que a quadrilha desbaratada na Operação Caravelas, que tem ramificações na Europa e na Colômbia, tenha alguém infiltrado na Polícia Federal. O roubo teria, além da função de recuperar o dinheiro do bando, a intenção de paralisar as investigações da operação.

¿ A Operação Caravelas precisa ser continuada. Há, por exemplo, fortes indícios que haja uma ramificação da quadrilha nos Estados Unidos ¿ disse o diretor-geral da PF.

Advogado da quadrilha é suspenso pela OAB-RJ

Lacerda considerou uma falha o fato de o chefe do cartório da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), onde estava o dinheiro, Fábio Mariot Kair, não ter feito cópia das notas após a apreensão. Segundo ele, a falha não põe o servidor como suspeito.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vai suspender imediatamente, por 90 dias, o advogado Estilaque Oliveira Reis, que está preso sob acusação de ser o consultor jurídico e contador da quadrilha que tentou mandar 1,6 tonelada de cocaína dentro de peças de carne para a Europa. Paralelamente, o advogado responderá a processo ético disciplinar que poderá até culminar na cassação dos direitos de exercer a profissão.

Ontem, a OAB entregou documentos de Estilaque Reis à Polícia Federal. Em um de seus cartões de apresentação, ele se identifica como advogado e contador, o que é uma irregularidade. O advogado pode até fazer trabalhos contábeis para o cliente, mas não pode se apresentar como contador.