Título: FMI: ECONOMIA DO BRASIL SUPORTA TURBULÊNCIAS
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 24/09/2005, Economia, p. 33

Fundo e Banco Mundial acreditam que crise política não abalará país, nem mesmo com perspectiva de eleição

WASHINGTON. Ao reavaliar o impacto dos recentes escândalos políticos no Brasil, tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) quanto o Banco Mundial (Bird) concluíram que a economia do país está suficientemente robusta e bem encaminhada e, por isso, não deverá sofrer abalos. A perspectiva de eleições presidenciais no ano que vem, mesmo em meio a um clima de crise, tampouco preocupa.

Segundo Anoop Singh, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, que monitora toda a América Latina, a estabilidade macroeconômica do país atingiu uma solidez capaz de neutralizar as incertezas políticas. Ele disse que se a atual crise política tivesse acontecido dez anos atrás haveria grande preocupação nos mercados. Mas a situação, agora, é bem diferente e, por isso, ¿não devemos ter temor algum¿:

¿ Uma coisa é ter eleições e incertezas políticas acontecendo durante períodos de instabilidade macroeconômica. Outra coisa, bem diferente, é ter eleições em meio à incertezas durante períodos de estabilidade macroeconômica.

Momento tranqüilo para a América Latina, diz Fundo

Pamela Cox, vice-presidente do Bird para a América Latina, endossou:

¿ A economia do Brasil está sendo administrada de forma muito prudente e é isso que vale, é isso o que tem influência (no mercado). O importante é o governo administrar a economia com sensibilidade e prudência. Está claro que o povo brasileiro não quer voltar aos dias de alta inflação.

Singh acrescentou que os investidores estrangeiros estão tranquilos em relação ao que acontece no Brasil:

¿ Se você olha como está a política econômica brasileira e também a confiança do mercado, vê que a situação é extremamente sólida. Nós temos em mãos indicadores dos mercados financeiros bastante fortes em relação ao Brasil.

Na opinião de Singh, a América Latina em geral atravessa um momento de tranqüilidade, apesar da volatilidade dos preços do petróleo. A região vem controlando a inflação, tem conseguido reduzir o estoque da dívida pública e, no caso específico do Brasil, ¿tem havido um fortalecimento renovado da demanda doméstica¿.

¿ Os brasileiros armaram uma resistência para lidar com todos os riscos muito melhor do que tinham dez anos atrás ¿ disse o diretor do Fundo.

Desigualdade e pobreza, pontos desfavoráveis

Guilllermo Perry, economista-chefe do Bird, que também participou da reavaliação realizada ontem, lembrou que a saudável economia da Ásia tem ajudado bastante os países latino-americanos, pois as nações daquela região ¿ em especial a China ¿ vêm demandando cada vez mais produtos da América Latina.

¿ Outros aspectos bastante positivos são a maior acumulação de reservas na América Latina, a redução dos déficits fiscais e a cuidadosa administração da divida pública. Por isso, mesmo que haja uma grande reversão do fluxo de capital injetado na região, algo que sempre foi o seu calcanhar de Aquiles, o impacto agora seria muito, muito menor ¿ afirmou o economista.

Apesar dessa visão otimista, a vice-presidente Pamela Cox disse que ainda há um enorme problema a resolver: o da persistência da pobreza, fomentado basicamente pela desigualdade de opções e oportunidades. A América Latina, disse ela, hoje é mais desigual do que o grupo de miseráveis países que foram a África sub-Sahara:

¿ É preciso investir muito nos pobres, e por muito tempo. O combate à pobreza tem de ser encarado como uma questão de longo prazo ¿ disse ela.