Título: ALGODÃO: PAÍS NÃO VAI RETALIAR OS EUA
Autor: Vladimir Goitia
Fonte: O Globo, 24/09/2005, Economia, p. 36

Furlan diz que governo brasileiro pode pedir outro tipo de compensação

SÃO PAULO. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, negou ontem que o Brasil tenha intenções de retaliar comercialmente os Estados Unidos devido à manutenção, por parte do governo americano, de subsídios ilegais aos produtores de algodão. Os EUA foram condenados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) a retirar os subsídios, mas até agora nada fizeram nesse sentido.

Há cerca de três meses, contou Furlan, a possibilidade de retaliar os EUA chegou a ser discutida na Câmara de Comércio Exterior (Camex), da qual fazem parte os ministros das áreas econômica e comercial, além do Itamaraty. Na ocasião, o Ministério de Relações Exteriores informara que trabalhava para encontrar uma solução negociada antes de partir para a retaliação comercial.

¿ Estarei na segunda e na terça-feira em Washington, com três ministros do governo americano, e um dos temas desses encontros será esse ¿ explicou Furlan ontem, depois da assinatura de um acordo de cooperação entre o Brasil e Cingapura, em São Paulo.

O ministro disse ainda que, nessas reuniões, vai tratar da possibilidade de o governo americano facilitar a entrada de alguns produtos de interesse do Brasil para compensar o prejuízo provocado pelos subsídios ao algodão.

¿ Essa pode ser uma compensação (econômica) razoável ¿ afirmou Furlan.

Quanto ao impasse com a Argentina na questão dos calçados, Furlan explicou que as medidas que o país vizinho tomou para controlar o contrabando não visam a criar obstáculos para o Brasil. E disse acreditar em uma solução satisfatória na reunião bilateral ocorrida ontem, no Rio, na qual os dois países acabaram chegando a um acordo.

Exportações já somam US$81,1 bi este ano

Sobre a ameaça da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de entrar na Justiça para aplicar salvaguardas contra produtos chineses, o ministro explicou que na quinta-feira se reuniu com o presidente da entidade, Paulo Skaf, e acertou uma trégua, pelo menos até voltar da China, onde deverá reunir-se com membros do governo chinês justamente para tentar resolver impasses sobre o comércio entre os dois países.

Furlan anunciou ainda que o Ministério do Desenvolvimento revisou para cima as metas do comércio exterior brasileiro. Mas os novos números serão divulgados só no início de outubro. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações de janeiro até a terceira semana de setembro totalizam US$81,86 bilhões e as importações, US$50,83 bilhões, com saldo positivo de US$31 bilhões. A meta de exportações no ano está em US$112 bilhões.