Título: Digladiadores
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 22/09/2005, O País, p. 2

Em duas situações, PSDB e PT voltaram a se apresentar como partidos polares na luta pelo poder. Seus representantes só não foram à luta corporal durante o depoimento do empresário Daniel Dantas, cuja maior utilidade foi revelar que os dois partidos tiveram relações que renegam com o empresário. Reapareceram na pesquisa CNI-Ibope como forças realmente credenciadas a disputar a Presidência em 2006, mesmo com o baque nos índices de aprovação do governo e do presidente.

Eles fizeram soar os alarmes do PT e do governo. Pela primeira vez, o índice de insatisfeitos supera o dos relativamente satisfeitos. O presidente e o governo colhem os efeitos da crise e da decepção com os desatinos financeiros da direção do PT em seu momento de máxima propagação entre os eleitores. Agora, 81% dos entrevistados sabem de tudo.

Mesmo assim, Lula continua sendo o candidato melhor avaliado e teria um empate técnico com o tucano José Serra no primeiro turno, com 33% e 30% respectivamente. Quando os dois polarizam a disputa, os demais candidatos têm suas intenções de voto reduzidas. A consolidação desta tendência de polarização deve desestimular outras candidaturas. Embora o PFL esteja disposto a manter a candidatura de Cesar Maia no primeiro turno, tão clara polaridade pode desestimular o PMDB a lançar candidato próprio, dividindo-se entre os que já preferem Lula e os que se inclinam pelo apoio ao prefeito paulistano, se for ele mesmo o candidato. Garotinho se manteve na faixa de sempre (15%) e o governador Germano Rigotto alcançou apenas 2% de votos.

As intenções de voto em Lula, entretanto, estão fortemente ameaçadas pelo julgamento do governo e de seu próprio desempenho. Em três meses, a aprovação do desempenho do presidente caiu de 55% para 45%, e a desaprovação passou de 38% para 49%. Saldo negativo de quatro pontos. Fernando Henrique, em agosto de 1997, segundo a mesma série de pesquisas, tinha 36% de desaprovação e 55% de aprovação. Saldo positivo de 19%. Uma situação melhor que a de Lula hoje, faltando quase o mesmo tempo para a data da eleição (1º de outubro de 2006). A confiança em Lula também caiu, em três meses, de 56% para 44% e a desconfiança aumentou de 38% para 51%. O baque não foi menor para a avaliação do governo: a positiva caiu de 35% para 29% e a negativa passou de 22% para 32%. Os radares do governo e do PT anotaram os resultados com tinta vermelha. Eles confirmam a mistura das imagens de Lula, do PT e do governo na percepção popular da crise, sugerindo que a reeleição tornou-se muito difícil.

Estes resultados, tão animadores para os tucanos, sugerem o prolongamento da crise e dos trabalhos das CPIs. Se a propagação do escândalo tem sido um corrosivo tão eficiente da popularidade de Lula, a razão eleitoral tucana tudo fará para manter a crise em cartaz.