Título: Na despedida, buchada de bode e plano para 2006
Autor: Isabel Braga/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 22/09/2005, O País, p. 8

Presidente do Senado e 24 parlamentares foram se despedir de Severino, que não decidiu quando volta a Pernambuco

BRASÍLIA. A romaria à residência oficial da presidência da Câmara começou cedo no último dia de Severino Cavalcanti (PP-PE) no cargo. O primeiro a chegar foi o vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL), candidato à sua sucessão, que disse ter ido levar um abraço de apoio. Mais 24 parlamentares estiveram lá, do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a deputados do baixo clero, passando por líderes e presidentes de partidos. Alguns ficaram para o almoço de despedida, que teve buchada de bode, carneiro e tambaqui.

Mesmo com tantas visitas e telefonemas, Severino era a figura do abatimento. A mulher, dona Amélia, tentava recuperar seu ânimo:

- Amelinha vai fazer política por Pernambuco inteiro. Podem dizer lá que Amelinha voltou e Severino vai fazer o dobro da votação - dizia dona Amélia para os que chegavam à casa.

Severino fez questão de se despedir das visitas na porta da casa. Inicialmente apareceu com uma camisa de mangas curtas. No início da tarde, já vestia camisa branca e gravata, quando se despediu de Calheiros, que ficou só três minutos, e do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB).

- A gente tem de ser solidário quando as pessoas estão por baixo - disse Suassuna.

De volta ao antigo apartamento

Severino falou por telefone com conterrâneos de João Alfredo e prefeitos aliados, que ligaram para dizer que farão campanha para elegê-lo no próximo ano. Severino e seu grupo político se preocupam com a sobrevivência política sem as emendas orçamentárias para seus redutos eleitorais.

Também aproveitou para fazer ajustes no discurso, escrito à mão por ele e depois revisado por assessores. Nesses momentos, mostrou certa descontração, ameaçando, de brincadeira, desistir da renúncia durante o discurso, para desespero da mulher e dos filhos.

Depois do anúncio da renúncia, Severino não voltou à residência oficial da presidência da Câmara, o que, pelas regras da Casa, poderia fazer. Sua mudança começou a ser arrumada na segunda-feira e despachada para Pernambuco. Ao deixar o prédio da Câmara, de onde saiu cabisbaixo e acompanhado de parentes, Severino foi para seu antigo apartamento de deputado no carro oficial da presidência. Não falou com jornalistas:

- Estou rouco.

Hoje Severino fará avaliação para saber se será submetido a uma cirurgia de catarata no olho esquerdo. Não se sabe quando irá para Pernambuco. De manhã, assessores diziam que iria amanhã para João Alfredo. Mais tarde, que ficaria ao menos uma semana em Brasília.