Título: NOVO PRESIDENTE DA CÂMARA FAZ CAMPANHA PELO TELEFONE
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 22/09/2005, O País, p. 9

José Thomaz Nonô passa a noite pedindo aos colegas votos para sua candidatura

BRASÍLIA. Na noite de ontem, o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL) telefonava para os colegas parlamentares pedindo votos para sua candidatura à presidência da Câmara. Com a renúncia de Severino Cavalcanti, ele assumiu o comando da Casa até a escolha do novo presidente. Nas conversas com os deputados, Nonô definia a sua candidatura:

- Peço que considere com simpatia essa candidatura heterodoxa.

Há 23 anos como deputado federal, Nonô tem uma trajetória política que vai da extrema esquerda à direita. Presidente do diretório estudantil da Faculdade de Direito de Recife, era colega de turma do cantor Alceu Valença. Foi preso em 1968, no congresso clandestino da UNE em Ibiúna. Junto com o deputado José Dirceu (PT-SP) e o ex-presidente do PT José Genoino, Nonô ficou preso no Carandiru por 42 dias. Filho do deputado alagoano Aloysio Nonô, cassado pelo AI-5, o jovem José Thomaz foi para um exílio voluntário em Lisboa.

De volta a Alagoas, foi promotor em cidades do interior até assumir a Promotoria do Júri de Maceió. Virou advogado do então senador Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas. Em 1979, foi secretário da Fazenda do governo de Guilherme Palmeira, de quem é primo. Desde então, não saiu mais da vida pública. O primeiro mandato de deputado federal foi em 1983, pelo PDS. Mas, contrário ao comando partidário, juntou-se ao grupo a favor das eleições diretas, quando se aproximou de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.

- Desde aquela época sou PHD em dissidência - brinca Nonô.

Nessas duas décadas de Parlamento, Nonô ganhou destaque durante a CPI do Orçamento. Como presidente da Comissão de Constituição e Justiça, ele comandou o processo de cassação dos chamados anões do Orçamento. O momento mais difícil da vida política do deputado foi em 1990, com a eleição do presidente Fernando Collor. Foi o único parlamentar alagoano a fazer oposição ao governo Collor. Filiado ao PFL, Nonô foi constrangido a mudar de partido, filiando-se ao PMDB. Passou ainda pelo PSDB e está de volta ao PFL desde 1999. Para ele, não há motivos para constrangimentos em sua trajetória.

- Nunca tive bússola. Sou até hoje indisciplinado. Sou um saudável maniqueísta: divido o mundo entre quem rouba e quem não rouba - enfatiza.

Legenda da foto: JOSÉ THOMAZ Nonô: da esquerda à direita