Título: MP INVESTIGA O SUMIÇO DE 30 AUTOS DE INFRAÇÃO DA 1ª VARA DA INFÂNCIA
Autor: Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 22/09/2005, Rio, p. 21

Documentos desapareceram durante a gestão do então juiz Siro Darlan

Trinta autos de infração lavrados contra casas de jogos eletrônicos (lan-houses) por comissários da 1ª Vara da Infância e da Juventude desapareceram do cartório da instituição na gestão do então juiz Siro Darlan, hoje desembargador. A informação é de uma fonte no Juizado da Infância, da Juventude e do Idoso. Os técnicos da 1ª Vara estão tentando restaurar os laudos sumidos através, por exemplo, do resgate de cópias encontradas no cartório.

O desaparecimento é investigado em inquérito que está sob segredo de Justiça na 5ª Promotoria de Defesa da Cidadania do Ministério Público. O Tribunal de Justiça também investiga o caso. O inquérito foi instaurado contra Luís Eduardo Soares, conhecido como Mr. Bean, ex-motorista de Siro Darlan, exonerado na noite de anteontem do cargo de assistente de órgão julgador, depois de ser preso em flagrante pegando, em nome da 1ª Vara, 80 bilhetes para shows na casa de espetáculos Claro Hall, na Barra.

Os outros acusados são Wellington Regadas Moreira e Paulo Roberto Rolim. Os três eram comissários voluntários da 1ª Vara na época de Siro Darlan e foram acusados de improbidade administrativa por extorsão e corrupção contra casas de diversão, entre elas lan-houses.

Ontem, Mr. Bean foi levado da 16ª DP, onde foi autuado por corrupção passiva e falsa identidade, para a Polinter. À tarde, a juíza-titular da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, Ivone Caetano, divulgou nota informando que, ao assumir o cargo, passou a sofrer ofensas, pois decidiu exonerar e afastar funcionários, especialmente um grupo que atuava como colaborador. Na nota, a juíza informa que nenhum servidor do Juizado está autorizado "a pleitear cortesias em estabelecimentos fiscalizados...". Ela divulgou uma ordem de serviço, de junho, ditando normas rígidas de conduta para os comissários.

Anunciada a exoneração de acusado

O desembargador Siro Darlan disse ontem que exonerou do seu gabinete o funcionário Luís Eduardo Soares assim que soube que ele fora preso, na terça-feira, exigindo na bilheteria do Claro Hall 80 ingressos em nome da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso:

- Ele foi exonerado no mesmo instante em que tomei conhecimento do caso. Ele exercia função de confiança. Quando perdi a confiança, o afastei.

Apesar de Luís Eduardo já ter sido investigado por suspeita de fraude eleitoral e extorsão para evitar fiscalização em casas noturnas, Siro o contratou para a fundação de motorista do Tribunal de Justiça ao tomar posse como desembargador. Ele alegou que nada ficou provado contra o servidor, que recebia R$2.200 mensais.

- Eu o trouxe para o gabinete porque foi realizada sindicância, presidida pela juíza Tula Corrêa, que o inocentou - disse Siro, acrescentando que Luís Eduardo trabalhava para ele há sete anos. - Sempre com comportamento inatacável.