Título: Pequenas em ritmo mais lento
Autor: Luciana Rodrigues/Geralda Doca
Fonte: O Globo, 22/09/2005, Economia, p. 25

Empresas de menor porte exportam 22% mais e companhias maiores crescem até 45%

No salto exportador do Brasil, as micro e pequenas empresas aproveitaram o embalo e fincaram o pé no exterior. Porém, suas vendas externas têm crescido a um ritmo mais lento do que as de grandes e médias empresas. No ano passado, o avanço das micro e pequenas no mercado externo foi de 22,6%. Enquanto isso, as exportações das médias empresas cresceram 45,3% entre 2003 e 2004, e as vendas das grandes tiveram aumento de 27,6%, mostra o segundo levantamento anual do Sebrae sobre o tema, apresentado ontem.

A pesquisa, realizada em conjunto com a Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), constatou que, em 2004, havia 7.443 micro e pequenas empresas exportadoras, com vendas externas totais de US$1,85 bilhão. Em 1998, só 5.854 vendiam seus produtos para o exterior. Mas, em volume exportado, a expansão foi menor do que a média nacional. Desde 1998, as micro e pequenas aumentaram em 66,7% suas vendas externas. No total, as exportações da indústria brasileira cresceram 88,35%. Com isso, a participação das micro e pequenas caiu de 2,6% para 2,3%.

Para Fernando Ribeiro, economista da Funcex, a principal dificuldade é o acesso à informação. Além disso, os custos são altos para inserção e consolidação no mercado externo, onde é preciso lidar com consumidores exigentes e preços competitivos.

- Levantar e sistematizar informações sobre o mercado internacional, por exemplo, sobre como achar o consumidor lá fora, é complicado - explicou Ribeiro, acrescentando que isso reforça a necessidade de o governo ampliar o apoio a ações coletivas, como cooperativas e arranjos produtivos locais (APLs).

Desafio é elevar valor das vendas

O empresário João Marcos Cabral de Menezes sabe bem como é difícil promover seus produtos no exterior. Sócio da Acuapura, que fabrica cloro de origem orgânica para tratamento de água, Menezes conta com a construtora Norberto Odebrecht para realizar metade de suas exportações. Além de Angola, onde vende sobretudo para a Odebrecht, a Acuapura já garimpou outros mercados, como Camarões, países da África Subsaariana e da América Central. No total, vende US$500 mil por ano ao exterior, metade do faturamento da empresa.

- O caminho é árduo. Não conseguimos financiamento, a dificuldade de logística para exportar é enorme e ir numa feira no exterior é muito caro - queixa-se Menezes.

Para o diretor-técnico do Sebrae, Luiz Carlos Barboza, o desafio é aumentar a competividade das micro e pequenas e elevar o valor médio exportado. Aliás, destacou ele, já houve avanços nesta área: o valor médio exportado pelas micros subiu de US$47,6 mil em 1998 para US$54,4 mil no ano passado e o das pequenas, de US$282,5 mil para US$362,8 mil.

A pesquisa constatou que, desde 1998, muitas pequenas cresceram e se tornaram médias empresas. Considerando apenas as firmas que, em 1998, eram micro e pequenas exportadoras e que, em 2004, continuaram vendendo ao exterior, incluindo as que mudaram de porte, o avanço das exportações foi de 126%. Ou seja, o dobro da expansão de todas as micro e pequenas no período (66,7%).

O levantamento também identificou uma maior persistência das pequenas. Em 2003, apenas 31% das microempresas e 52,9% das pequenas faziam a chamada "exportação contínua" (vendas externas ininterruptas desde 1998). Em 2004, eram 44,5% das micro e 57,9% das pequenas. Na maioria, as vendas externas são de manufaturados (83,2% nas micro e 79,7% nas pequenas) e de baixa ou baixa-média intensidade tecnológica (80,5% nas micro e 80,7% nas pequenas).

Segundo Francisco Barone, coordenador do programa da Fundação Getulio Vargas para micro e pequenas empresas (Small/Ebape/FGV), isso explica, em parte, porque elas perderam espaço na pauta de exportações brasileiras desde 1998. Como grande parte dos ganhos do Brasil veio de produtos básicos, as pequenas ficaram para trás. No que diz respeito ao conteúdo tecnológico, Barone destaca que produtos intensivos em mão-de-obra podem ter alto valor agregado:

- A moda praia ou o artesanato brasileiro ganham na qualidade e no design. A cachaça é um sucesso e uma caipirinha chega a custar nove euros na Alemanha - exemplifica.

A União Européia (UE) é o segundo maior destino das exportações das pequenas e o terceiro para as vendas das micro, atrás da América Latina. EUA e Canadá lideram nos dois casos, respondendo por 21,7% das vendas das micro e por 26,5% das pequenas.

No Rio, menos microempresas exportadoras

Quinto maior exportador do Brasil, o Estado do Rio fica na lanterninha quando se trata das vendas externas de micro e pequenas empresas. Essas representam apenas 0,8% das exportações fluminenses, desempenho só melhor do que o alcançado por Maranhão (0,3%), Rio Grande do Norte (0,4%), Goiás (0,6%) e Alagoas (0,7%). Na primeira vez que o Sebrae levantou dados por estado, encontrou 281 microempresas fluminenses, que juntas exportaram R$42,2 milhões em 2004.

Enquanto as pequenas do Rio viram suas vendas externas crescerem desde 1998 - de US$28,5 milhões para US$38,7 milhões em 2004, num salto de 36% - as microempresas fluminenses diminuíram suas exportações e muitas saíram do mercado. Eram 116 em 1998, vendendo US$4,3 milhões. No ano passado, apenas 91 microempresas continuaram no mercado externo, com exportações totais de US$3,6 milhões - uma queda de 16%.

Para Luciana de Sá, economista da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a estrutura industrial fluminense explica a baixa participação das micro e pequenas. Ela lembra que só a extrativa mineral e o refino de petróleo respondem por mais de 30% da indústria do Rio. A metalurgia, outra área onde as pequenas têm pouco espaço, fica com 11,7%. Segundo os técnicos do Sebrae, o peso do petróleo e do aço nas exportações fluminenses distorce os resultados. Sem esses itens, garantem, a participação das pequenas seria bem maior.

Mas, para Francisco Barone, da Small/Ebape/FGV, falta interação entre os diferentes níveis do governo e a iniciativa privada para apoiar as exportações dos pequenos no Rio.

CÂMBIO AFETARÁ PEQUENAS EMPRESAS ESTE ANO, na página 26

Legenda da foto: NA PEQUENA empresa química Acuapura, do Rio, a falta de financiamento e a dificuldade de logística prejudicam as exportações