Título: VIAGENS E JUROS REDUZEM SALDO EXTERNO DO PAÍS
Autor: Ênio Vieira
Fonte: O Globo, 22/09/2005, Economia, p. 27

Despesas cresceram 61% em agosto, para US$3,166 bi, reduzindo superávit a US$822 milhões

BRASÍLIA. As despesas com serviços - viagens internacionais, juros da dívida externa, remessa de lucros e dividendos - cresceram 61% no mês passado em relação a agosto de 2004 e reduziram fortemente o saldo das contas externas brasileiras. O déficit mensal com esses gastos passou de US$1,958 bilhão para US$3,166 bilhões. Com isso, as transações correntes (soma de serviços e balança comercial) registraram superávit de US$822 milhões em agosto, frente a um saldo de US$1,751 bilhão em comparação ao mesmo mês de 2004.

A balança comercial não foi capaz de compensar a alta nos gastos com serviços pois cresceu apenas 6,9%, de US$3,434 bilhões para US$3,671 bilhões. Quanto maior o saldo das transações, menor a vulnerabilidade do Brasil a crises externas, pois significa que o governo e as empresas têm recursos para honrar seus compromissos.

- Esperávamos um saldo corrente de US$1,4 bilhão em agosto, mas as remessas de lucros vieram acima do esperado. Para setembro, espera-se uma acomodação das remessas, com um superávit de US$2,5 bilhões nas transações correntes - disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes.

Segundo ele, as empresas estrangeiras estão remetendo às suas matrizes os fortes lucros de 2004. Lopes ressaltou que, como as empresas tiveram bons resultados no primeiro semestre, as remessas devem continuar fortes em 2006. Até agosto, elas atingiram US$7,886 bilhões, superando o total de 2004 (US$7,338 bilhões):

- A rentabilidade das empresas em 2004 foi a maior nos últimos 23 anos. E o câmbio hoje favorece as remessas.

Investimentos estrangeiros recuam em setembro

Também pesou o fato de as viagens internacionais recuarem de saldo de US$9 milhões em agosto de 2004 para déficit de US$103 milhões mês passado, devido, segundo Lopes, à valorização do real e à melhora na renda. O BC espera déficit de US$1,2 bilhão nas viagens em 2005, contra expectativa de equilíbrio no início do ano. Já a conta de juros da dívida externa passou de déficit de US$981 milhões em agosto de 2004 para US$1,313 bilhão mês passado.

Ainda assim, no acumulado do ano as transações correntes têm saldo de US$8,698 bilhões, frente a US$7,970 bilhões em igual período de 2004. Segundo Lopes, esse resultado é sustentado pela balança comercial. Nos últimos 12 meses, o saldo corrente está em US$12,465 bilhões, equivalente a 1,78% do PIB. O BC estima que esse superávit acumulado feche o ano em US$9,4 bilhões.

Lopes também disse que a entrada de investimento estrangeiro direto este mês deve ficar em US$300 milhões, a menor desde maio de 2004. Ele informou que, nos 21 primeiros dias de setembro, entraram US$100 milhões. Três operações de empresas brasileiras - uma do setor químico e dois bancos - comprando participação de estrangeiras no país resultaram na saída de US$900 milhões este mês.

Lopes mantém a previsão de ingressos de US$16 bilhões em 2005. Em agosto, o investimento direto das multinacionais foi de US$1,146 bilhão, bem abaixo dos US$6,089 bilhões do mesmo mês do ano passado. No ano, o acumulado é de US$11,744 bilhões, mesmo nível de 2004 (US$11,735 bilhões).