Título: FMI REDUZ ESTIMATIVA DE CRESCIMENTO DO BRASIL
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 22/09/2005, Economia, p. 29

Para Fundo, alta do petróleo e crise política farão com que país tenha expansão de 3,3%, a menor do Mercosul

WASHINGTON. Pelos cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil crescerá este ano menos do que a própria instituição havia previsto em abril passado. Em vez dos 3,7% projetados, a economia brasileira terá um crescimento de 3,3% - o índice mais baixo dos países do Mercosul. No ano que vem, o índice seria de 3,5%. A América Latina, como um todo, crescerá 4,4% este ano e 3,8% em 2006.

Há dois motivos para o recuo. O primeiro é a queda da demanda doméstica no início do ano "em resposta ao aperto monetário para conter a inflação". O segundo é o aumento dos preços do petróleo. Mas há ainda um terceiro fator que, junto com o crescente encarecimento do petróleo, poderia prejudicar o crescimento ainda mais do que o agora imaginado: os escândalos políticos atuais.

Segundo o FMI, as perspectivas de crescimento do Brasil podem sofrer ainda mais por causa dos "possíveis desdobramentos que as incertezas políticas acrescentam aos riscos negativos". Reverberações de problemas da vizinhança também teriam um peso nocivo:

"Crescentes incertezas políticas, resultantes tanto de eventos específicos de cada país como de um abarrotado calendário regional de eleições no próximo ano, também são uma fonte de risco, enfatizando a necessidade de se continuar a implementação de políticas sólidas e de uma cautelosa administração da dívida", aconselhou o Fundo no informe "Perspectivas da Economia Mundial", divulgado ontem na abertura da reunião anual conjunta do FMI e do Banco Mundial (Bird).

EUA crescerão menos por causa do furacão Katrina

A expectativa do Fundo é que o mundo inteiro tenha um robusto crescimento de 4,3%, tanto em 2005 quanto em 2006. Mas, segundo Raghuram Rajan, economista-chefe do FMI, não há como garantir essa previsão devido a um grupo de fatores preocupantes.

O furacão Katrina, que atingiu o Golfo do México no fim de agosto, provocará uma queda de 0,5 ponto percentual na taxa anual de crescimento dos EUA até o fim deste ano. Isso significará uma perda de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB). E a confiança do consumidor vem caindo:

- Um dos problemas é a excessiva dependência de demanda global no consumo, especialmente nos Estados Unidos; além de um nível elevado nos preços de bens, particularmente os de imóveis, que estão ignorando as leis da gravidade. Há também o alto e volátil preço do petróleo. Dessa forma, os riscos negativos às nossas previsões aumentaram - disse Rajan.

Mundo está dependente do consumo

Economista-chefe do Fundo alerta para baixo nível de investimentos atual

WASHINGTON. Raghuram Rajan, o economista-chefe do FMI, alertou ontem que está em curso uma tendência nociva ao crescimento sustentável da economia mundial: o fato de o mundo estar investindo muito pouco e, portanto, a atividade econômica estar sendo estimulada basicamente pelo consumo de alguns poucos países ricos.

Segundo ele, o mundo precisa realizar duas transições específicas. Uma é que o consumo precisar dar lugar, gradualmente, ao investimento. A outra é a redução dos atuais desequilíbrios da conta corrente, que cresceram. A demanda, disse ele, precisa acontecer a partir dos países que estão gozando de superávit e não mais daqueles que têm sofrido déficits.

O problema central, disse Rajan, é que uma forte demanda externa permitiu que vários países gerassem crescimento por meio de exportações sem realizar reformas profundas que incentivassem o investimento:

- Muitos países, portanto, estão demasiadamente dependentes de demanda em outras partes, e essa demanda, oriunda basicamente de poucos países ricos, é alimentada por um crescente estímulo fiscal insustentável, e também por preços de imóveis que estão ignorando as leis da gravidade. (J.M.P.)

INCLUI QUADRO: AS PROJEÇÕES DO ORGANISMO