Título: LULA JÁ PENSA NAS ALIANÇAS PARA 2006
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 25/09/2005, O País, p. 4

Ministro Jaques Wagner aposta em `palanque amplo'

BRASÍLIA. Desde que decidiu disputar a reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a trabalhar com dois cenários para 2006. No mais otimista, em que seria mais competitivo e com chances reais de vitória, Lula tentará formar um amplo arco de alianças. Nessa hipótese, além de manter a tradicional frente de partidos que acompanha o PT há anos e dá sustentação ao governo agora, o presidente assumirá como maior desafio conquistar o apoio formal do PMDB, partido dividido ao meio em relação a seu governo.

Com um ano de antecedência e a crise política ainda com temperatura alta ¿ mas não altíssima ¿ não se descarta, no núcleo que tem acesso direto ao Palácio do Planalto, a possibilidade de um cenário pessimista, com poucas chances de vitória para Lula. Nesse caso, o presidente está consciente de que não terá quase apoio, muito menos o do PMDB. Irá para a luta com a velha e restrita Frente Brasil Popular, o PCdoB e o PSB.

¿ Se Lula estiver bem nas pesquisas, vai ter gente no palanque que ele nem queria. Se estiver mal, as pessoas vão se afastar. Mas como aposto que o governo estará em alta, acho que teremos um palanque amplo ¿ avalia o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner.

Foi já pensando em 2006 que Lula decidiu interferir pessoalmente na disputa pela presidência da Câmara. Na semana passada, ele retirou a candidatura do líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), em favor do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), um nome que, no mínimo, agrega mais que um petista neste momento de desgaste. Na quinta-feira, Lula foi direto na conversa que teve com Chinaglia:

¿ Já temos a Presidência da República. Agora, é preciso ampliar espaço com os aliados. Afinal, nós (PT) fomos o pivô da crise.

Depois que passar a batalha da Câmara, esta semana, o governo saberá exatamente seu poder de fogo na política. Se não for bem-sucedido, a maior aposta para Lula recuperar a popularidade continuará sendo o discurso sobre o bom desempenho da economia. Pesquisas recentes, inclusive a da CNI/Ibope divulgada na semana passada, mostram que por enquanto a economia não foi afetada pela crise política.

¿ A economia permitirá ao presidente Lula se recuperar até o próximo ano. Caso contrário, o cenário da crise poderá afetar seu desempenho eleitoral. Agora, as coligações são motivadas pelas chances reais de uma candidatura. Isso é o pragmatismo eleitoral ¿ reconhece o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE).

Para o cientista político Antônio Lavareda, da consultoria MCI - Estratégia, com os números atuais das pesquisas, Lula teria grande dificuldade para se reeleger. Ele lembra que neste mesmo período do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso o tucano tinha 43% de índice ótimo e bom sem nunca ter registrado uma diferença negativa. Hoje o governo Lula tem apenas 29%, com um desempenho avaliado como negativo três pontos percentuais acima. Lavareda acredita que Lula baseará sua candidatura na economia, na extensão da rede de benefícios sociais e no fato de ter sobrevivido às CPIs.