Título: Dezenas de parlamentares devem mudar de partido até 30 de setembro
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 25/09/2005, O País, p. 4

Vice José Alencar saiu do PL e a expectativa é de que se filie ao PMDB

BRASÍLIA. Ainda livres das amarras que uma reforma política poderá impor, os partidos se entregam com sofreguidão ao troca-troca partidário. Até a próxima sexta-feira, dezenas de deputados devem mudar de partido, transferindo-se para legendas onde, imaginam, será mais fácil se reeleger nas eleições gerais do ano que vem. Desde julho, quando a temporada de mudanças começou, 19 deputados já trocaram de partido.

Quem mudar de partido depois de 30 de setembro não poderá disputar a eleição do ano que vem. Um dos projetos de reforma política pronto para ser votado estabelece dois anos como período mínimo de filiação partidária para a disputa eleitoral.

Nessa ciranda estão dois presidenciáveis: o vice-presidente José Alencar, que saiu do PL, e que está sendo esperado no PMDB; e o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, que decidiu permanecer no PMDB apostando na vitória nas prévias que o partido fará para escolher o candidato à presidência.

¿ O Garotinho decidiu ficar no PMDB e está empenhado em vencer as prévias ¿ afirma o senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ).

Alencar pode até não filiar-se a partido algum. Ele acertou sua entrada no PMDB, mas depois descobriu que o partido está com os espaços ocupados. Para disputar a Presidência tem que derrubar Garotinho nas prévias. Ele poderia ser candidato ao governo de Minas Gerais, mas para isso terá de se acertar com o ex-presidente Itamar Franco, candidato ao Senado, que já se comprometeu com a reeleição do governador Aécio Neves (PSDB).

PMDB deve se beneficiar com troca-troca partidário

O PMDB deverá ser o maior beneficiado com o troca-troca. O partido que tem sete governadores já acertou o ingresso de mais dois: Eduardo Braga (AM) e Paulo Hartung (ES). O presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), avalia que ganhará sete ou oito novos deputados, tornando-se, assim, a maior bancada na Câmara.

¿ O PMDB passou a ser o desaguadouro natural de insatisfações regionais e partidárias ¿ diz Temer.

Já ingressaram os deputados Delfim Netto (SP) e André Zacharow (PR), e estão para entrar Marcus Vicente (ES), Vicente Cascioni (SP), Salvador Zimbaldi (SP) e Welington Fagundes (MT). No Senado, o partido perdeu dois nomes para o PSDB ¿ João Batista Mota (ES) e Paes Papaleo (RR) ¿ mas deve ganhar Aelton de Freitas (PL-MG).

O crescimento do PMDB incomoda o PSDB, que até agora recebeu de volta Hamilton Casara (RO) e deve contar com mais dois deputados: João Correia (PMDB-AC) e Alceste Almeida (RR). São mudanças modestas, sem influência no cenário nacional. O líder Alberto Goldman (SP) reconhece que o crescimento do PSDB será modesto:

¿ Não tem avalanche. Antes tínhamos três lixões: o PP, o PL e o PTB, agora muitos estão procurando o mangue, o PMDB.

A anunciada debandada da esquerda petista pode não ocorrer. Preocupados com sua reeleição, a maioria dos deputados do Bloco de Esquerda deve se acomodar e permanecer no PT. Se isso se confirmar o PSB e o PSOL perderão a chance de engordar suas bancadas. Apenas João Alfredo (CE), que já saiu do PT, deve ir para o PSOL. Os demais não querem arriscar concorrer à reeleição por um partido que terá dificuldades de atingir o quociente eleitoral.

¿ Nosso problema não é sair, mas falta de opções atraentes para onde ir ¿ resume Ivan Valente (PT-SP).

O PSB espera crescer. Já estão acertados os ingressos dos deputados Marcondes Gadelha (PTB-PB) e Maria Helena (PPS-RR), e o ex-líder do PPS Julio Delgado (MG) já entrou no partido. Os socialistas ainda assediam Virgílio Guimarães (PT-MG) e outros petistas de esquerda, como Walter Pinheiro (BA), Orlando Fantazini (SP), Chico Alencar (RJ) e Maninha (DF).

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