Título: GRUPO QUE RESISTIU À PRIVATIZAÇÃO TEM PETROBRAS, HOSPITAL E ARMAZÉM
Autor: Flávia Barboda, Elianbe Oliveria , Mirelle de Fran
Fonte: O Globo, 25/09/2005, Economia, p. 35

Ativos das 8 maiores estatais chega a R$786 bi. Quadro de pessoal cresce 16%

BRASÍLIA e RIO. As estatais que passaram incólumes pela forte onda privatizante dos últimos 15 anos formam um grupo heterogêneo de empresas, que vai de hospitais e armazéns a centros de pesquisa. Mas o Estado-empresário está hoje concentrado em três ramos de atividade: petróleo e gás, financeiro e energia.

São oito grupos econômicos cuja característica principal é a independência de recursos orçamentários e a capacidade de acumular patrimônio. Petrobras, Eletrobrás, Correios e os bancos da Amazônia, do Brasil, do Nordeste, Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal representavam, em 2003, R$786,457 bilhões em ativos, um crescimento de 96% desde 1997.

Total de controladas da Petrobras sobe 66%, para 176

Os maiores ativos são os do Banco do Brasil (BB) e da Petrobras, nesta ordem. Não é à toa que estas estatais, em dois anos e meio, criaram ou compraram unidades. São também, junto com a Eletrobrás, as empresas com os maiores tentáculos sobre a economia.

O BB tem 13 subsidiárias, em áreas que vão do turismo à administração de consórcios. A Eletrobrás, 16. A Petrobras, sozinha, conta com 48 subsidiárias que se subdividem para criar uma estrutura com 176 controladas ¿ um aumento de 66% em relação ao total de 106 em dezembro de 2002.

¿ Somos a sétima maior empresa de petróleo do mundo e, a partir de 2000, nos tornamos uma empresa de energia. Isso gerou novos negócios. Também há muitos jogos societários, que aumentam o número de empresas. Mas não há gigantismo, há uma empresa que se expande. E o governo tem de ver a Petrobras como um ativo que dá lucro ¿ avalia Raul Campos, gerente executivo de Relacionamento com Investidores da estatal.

Junto com a independência financeira e de gestão, o lucro é realmente um poderoso aliado das oito grandes no discurso que descarta o controlador (a União) como peça-chave no desenvolvimento dos negócios. No ano passado, só a Petrobras contribuiu com R$17,86 bilhões dos R$25,634 bilhões que ela, Eletrobrás, BB, Caixa, Basa, BNB, BNDES e Correios levantaram. O caixa do governo ficou com R$4,1 bilhões a título de dividendos de estatais, a maioria esmagadora vinda da atuação das oito.

¿ Somos lucrativos e eficientes ¿ defende Jânio Cézar Pohren, presidente dos Correios, acrescentando que 42% dos cerca de R$7 bilhões de receita da estatal são obtidos com áreas que disputam com empresas privadas.

A magnitude dos números das oito grandes veio acompanhada de aumento do quadro de pessoal ¿ superior ao ritmo de 15,6%, entre 2001 e junho deste ano, das 67 estatais de pequeno porte (de 28.350 empregados para 32.760). Elas empregavam 287.077 funcionários em 2001, número que subiu para 333.157 em junho deste ano ¿ uma alta de 16%.

Os Correios, maior empregador individual, com 108.230 funcionários, elevou o quadro em um terço no período. A Petrobras ¿ que chegou a ter 60 mil empregados em 1989 e diminuiu o montante a 38.281 em 2001 ¿ fechou junho com 48.864.

Isso sem contar o número de funcionários terceirizados. De acordo com o Ministério do Planejamento, a Caixa, por exemplo, tinha 20.904 terceirizados em 1997, número que passou a 45.168 seis anos depois (116% mais).

Para engenheiro, há `uma postura mais individualista¿

Houve, ainda, aumento dos dispêndios com pessoal. Entre 1997 e 2003 ¿ segundo demonstrativos do Planejamento ¿ os gastos passaram de R$13,747 bilhões para R$15,369 bilhões, crescimento de 11,8% no período. A maior folha é a do Banco do Brasil, enquanto a Eletrobrás faz o menor desembolso: R$92 milhões em 2003.

O engenheiro Carlos Machado conhece os dois lados da moeda. Funcionário da Embratel há 30 anos, ele acredita que a privatização da empresa, em 1998, trouxe vantagens e desvantagens para a companhia. A perda da estabilidade do emprego foi, segundo ele, o principal ponto negativo:

¿ Há um sentimento de perda. O número de funcionários da Embratel caiu de 11 mil (antes da privatização) para 6.800. Além disso, se antes os funcionários pensavam em crescer e se aposentar na empresa, hoje há uma postura mais individualista, já que há todo um mercado à disposição.