Título: ENTRE A RIQUEZA E A POBREZA EXTREMA
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 25/09/2005, Economia, p. 38

Poços que vão a leilão estão em fazendas produtivas ou assentamentos

SALVADOR. A impressão que se tem numa visita a alguns campos terrestres com poços fechados é a de ir do luxo ao lixo. As 11 áreas na Bahia que vão ser oferecidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) no próximo mês ficam a um raio de 150 quilômetros de Salvador. Alguns campos estão situados em fazendas produtivas, bem tratadas. Já outros campos estão em áreas pobres, com assentamentos.

O Campo-Escola de Quiambina da ANP está situado na Fazenda de Capebi, no Recôncavo, a cerca de 200 quilômetros de Salvador. A Fazenda tem plantações e criações de animais. A infra-estrutura para a exploração de petróleo instalada no local é simples, diz Magda Chambriard, superintendente da ANP. De fato, vê-se apenas uma sonda de produção e um tanque de armazenamento, em uma pequena área cercada para evitar a entrada de animais.

Para voltar a produzir no local, a ANP precisou da autorização do dono da fazenda Capebi, Otávio Carvalho. Para ele não havia problemas, mas apenas uma questão. O barulho dos caminhões assustaria as galinhas de raça criadas na Fazenda. O jeito foi a ANP fazer um desvio na estrada, para que o barulho dos transportadores de petróleo ficasse o mais longe possível das aves.

O campo Araçás Leste, um dos que vai a leilão, também está situado numa fazenda produtiva. Mas ao redor dos três poços lacrados pela Petrobras o mato toma conta. Nem todos os campos, porém, estão em local tão bem cuidado. É o caso do campo de Jacarandá, no pequeno município de São Sebastião do Passé, que tem cinco poços fechados há 22 anos e vê surgir um assentamento ilegal.

Muitos moradores das casas de invasões não sabem que têm poços de petróleo no seu quintal. É o caso da dona de casa Marizia Neris de Andrade, que mora em uma casa com o marido, um filho, a mãe e uma irmã. A casa, construída há quatro anos pelo marido, está a cinco metros de distância de um dos poços que vão a leilão, coberto pela areia das obras.

¿ Eu ouvi falar que tem petróleo aqui. Temos medo de ter que sair, mas se der emprego, vai ser bom ¿ disse Marizia.

Perinaldo dos Santos Alves, de 25 anos, também é vizinho do poço. Desempregado, ele se mostra ao mesmo tempo preocupado e otimista:

¿ Se vierem só explorar petróleo aqui não vai ser bom. Mas se forem dar empregos, vai melhorar a vida da gente.

A superintendente da ANP espera que a retomada da produção de poços fechados melhore as condições de vida da população e acredita que não seja necessário derrubar casas para reabilitar poços. (Ramona Ordoñez, enviada especial)