Título: UM PROJETO PARA MUDAR A VIDA DOS ÓRFÃOS DO PETRÓLEO
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 25/09/2005, Economia, p. 38

ANP lança programa para recuperar cerca de mil poços terrestres fechados por baixa produtividade, para melhorar condições de vida da população pobre na Região Nordeste

SALVADOR. Eles são os verdadeiros órfãos do petróleo. Morando ao lado ¿ literalmente a cinco metros de distância ¿ de poços desativados, eles não têm qualquer benefício com a riqueza do solo. São alguns milhares de nordestinos, principalmente no Recôncavo Baiano, que vivem em extrema pobreza nos arredores de 2.500 poços de petróleo, cujo barril, por sua qualidade, está cotado a US$50 pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Esses poços foram fechados pela Petrobras ao longo dos anos, por terem vazões muito pequenas, inferiores a 30 barris por dia.

Para melhorar as condições de vida na região, via geração de investimentos e empregos, a ANP decidiu lançar um programa de recuperação de poços que estão fechados em campos maduros.

Mil poços podem gerar dois mil empregos na Bahia

A ANP pretende reativar a produção de mil poços no Nordeste, principalmente na Bahia, por meio de pequenas empresas privadas nacionais. Segundo estimativas da superintendente de Exploração de Petróleo da ANP, Magda Chambriard, esses poços representarão investimentos de R$500 milhões e vão gerar cerca de dois mil empregos diretos e indiretos.

¿ Queremos incentivar a criação de milhares de pequenas empresas petrolíferas, que contratem o máximo possível de mão-de-obra local. Vamos fazer uma verdadeira reforma agrária com o petróleo ¿ destacou o diretor de Exploração da ANP, Newton Monteiro, idealizador do projeto.

O pontapé inicial já foi dado. Além dos tradicionais blocos no mar e em terra destinados a gigantes petrolíferas, a ANP vai oferecer as primeiras 17 áreas com poços terrestres inativos, na Sétima Rodada de Licitações, que será realizada em meados de outubro. O leilão dessas áreas ¿ 11 na Bahia e seis em Sergipe ¿ promete ser bem disputado. Das 141 empresas que manifestaram interesse em participar da Sétima Rodada, 98 são para esses campos.

O diretor da ANP ressalta que, diferentemente do tradicional leilão de blocos nos quais não se sabe se há petróleo e gás na área em disputa, esses 17 campos terrestres têm reservas conhecidas e poços que, em sua maioria, já produziram. O diretor informou que, nas 11 áreas na Bahia, é estimado um volume de nove milhões de barris de petróleo recuperável. Em Sergipe, seriam outros três milhões de barris.

Duas dessas áreas têm petróleo mas nunca produziram. O campo de Curral de Fora, na Bacia de Tucano Sul, na Bahia, foi descoberto em 1996 e tem reservas in situ (total de hidrocarbonetos existentes) de 1,8 milhão de metros cúbicos de gás natural. Outro campo que nunca produziu, descoberto em 1945, é o de Pitanga, na Bacia do Recôncavo. O campo tem sete poços, 2,1 milhões de barris de petróleo in situ e 9 milhões de metros cúbicos de gás.

Segundo Newton Monteiro, nos países onde o mercado é aberto há empresas petrolíferas pequenas, médias e grandes. Nos Estados Unidos, existem cerca de 23 mil pequenas empresas que produzem 2,2 milhões de barris diários de petróleo por dia, gerando 300 mil empregos diretos. A superintendente da ANP lembra que uma plataforma marítima que produz 180 mil barris diários de petróleo gera, em média, 300 empregos. Já os campos terrestres do Recôncavo, que produzem cerca de 45 mil barris por dia, geram três mil empregos.

Para apurar a viabilidade econômica do negócio, a ANP desenvolveu um projeto experimental no campo de Quiambina, no Recôncavo, em parceria com a Universidade Federal da Bahia. Foram investidos cerca de R$600 mil para reabilitar um dos oito poços do campo. Produzindo cerca de 20 barris diários de petróleo, o poço baiano, por funcionar apenas das 7h às 17h, já acumula uma produção da ordem de oito mil barris, segundo Monteiro. A estrutura simples montada já permitiu um lucro líquido de R$230 mil.