Título: CRISE GERAL DE CONFIANÇA
Autor:
Fonte: O Globo, 25/09/2005, O Mundo, p. 41

Embora o furacão Katrina tenha inundado boa parte de Nova Orleans, o estrago na infra-estrutura econômica americana parou perto das previsões anteriores. Naturalmente, Rita pode completar o trabalho. Mas o Katrina provocou mais do que danos físicos. Foi um golpe na nossa auto-imagem como nação. Talvez as pessoas se esqueçam rapidamente das cenas horríveis no Superdome. Mas meu palpite é que o choque na percepção que temos de nós mesmos persistirá por anos.

O estado de espírito me lembra o fim de 1979, quando uma confluência de fatores ¿ inflação de dois dígitos, filas nos postos de gasolina e a crise de reféns no Irã ¿ levou a uma crise nacional de confiança.

Comece pela segurança econômica. A confiança do consumidor, que já caía antes do Katrina, despencou. Uma pesquisa da Universidade de Michigan mostra que ela está no nível mais baixo desde que George Bush pai era presidente.

É verdade que o preço da gasolina retrocedeu do nível atingido com o Katrina. Mas mesmo se Rita poupar as refinarias, uma recuperação completa da confiança na economia parece improvável. Semanas atrás, o censo mostrou que em 2004 a pobreza aumentou.

E há a guerra no Iraque. A maioria dos americanos diz que ela foi um erro e muitos estão revoltados com seu custo.

Por último, indícios fragmentados ¿ como a queda na fração de americanos que aprova como Bush lida com o terrorismo ¿ sugerem que a confluência do Katrina com o quarto aniversário do 11 de Setembro causou uma rachadura na percepção sobre a guerra ao terror. A mísera resposta ao Katrina, que deveria ser mais fácil do que lidar com ataque terrorista, mostrou que nossos líderes nada fizeram para nos deixar mais seguros.

Temos uma crise geral de confiança. É o tipo de crise que abre a porta para dramáticas mudanças políticas ¿ possivelmente, mas não necessariamente, numa boa direção. Mas quem proverá liderança, agora que Bush é um produto defeituoso?

PAUL KRUGMAN é colunista do New York Times