Título: LOUVRE VAI TER NOVO ESPAÇO PARA A ARTE DO ISLÃ
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 25/09/2005, O Mundo, p. 42

Megaprojeto que encanta franceses é financiado por príncipe da Arábia Saudita, que doou 17 milhões de euros

PARIS. Com cerca de cinco milhões de muçulmanos no país e confrontada com processos de integração cada vez mais complicados, a França católica dá um passo em direção ao Islã. Desta vez, no plano cultural. O Louvre ¿ o maior museu do mundo ¿ lançou um megaprojeto que irá transformar a seção de artes islâmicas do museu em uma de suas grandes vitrines.

É um antigo desejo do presidente Jacques Chirac, que só foi possível graças à contribuição milionária do príncipe saudita Alwaleed Bin Talal Bin Abdulaziz Al Saud: 17 milhões de euros, uma das maiores da história do mecenato da França. Chirac, quando anunciou a doação em julho, disse que o aumento do espaço para o Islã no Louvre vai ¿ lembrar aos franceses e ao mundo a contribuição essencial das civilizações do Islã à nossa cultura (ocidental)¿.

¿Ato de uma generosidade excepcional¿, comemorou o ministro da Cultura, Donnedieu de Vabres.

Coleção cobre mundo islâmico da Espanha à Índia

É o ponto de partida de um projeto ambicioso, que não vai poupar recursos, nem talentos. Com dez mil obras, o Louvre possui uma das coleções de arte islâmica mais ricas e belas, que tem como ponto forte o mundo iraniano e árabe medieval e o Império Otomano. Ela cobre o mundo islâmico da Espanha à Índia e, cronologicamente, do século VII ao XIX. Segundo o Louvre, a coleção só é comparável em termos de riqueza das peças às coleções do Metropolitan Museum de Nova York, e do museu Victoria e Albert, em Londres.

Mas o Louvre não tinha espaço para tanto. Das cerca de 10 mil, só 1.300 obras estão expostas num espaço de 1.100 metros quadrados. O próprio Chirac deu a palavra final na escolha do novo local. E não poderia ser um lugar mais nobre: a chamada Cour Visconti , próxima do circuito nobre onde estão as grandes obras do Louvre, como a ¿Vênus de Milo¿, da antiguidade grega, e ¿La Gioconda¿ (Mona Lisa), do renascentista italiano Leonardo da Vinci.

Com um espaço aberto, a Cour Visconti vai possibilitar a realização de um projeto de arquitetura original, além de quadruplicar o espaço atual que o Louvre dedica à arte islâmica. Em novembro de 2004, o Louvre lançou um concurso internacional de arquitetura para criação do novo espaço.

Departamento islâmico é o oitavo de artes do museu

Ganhou o projeto do arquiteto italiano Mario Belline, que deixou sua marca em vários monumentos no mundo, como o Design Center de Tóquio. O projeto é ambicioso e inovador: o espaço aberto da Cour Visconti vai ser coberto por um véu luminoso, que flutuará sobre as obras de arte.

Quando entrar no Louvre pela pirâmide, o visitante vai ter uma visão espetacular deste véu: começará ali o percurso das artes islâmicas. Tudo foi calculado pelos idealizadores com precisão: no auge do verão, a intensidade luminosa que vai passar através do véu não ultrapassará o nível para a boa conservação das obras. A importância do Islã no Louvre cresceu quando o museu resolveu criar um departamento só para este tipo de arte: ele se transforma no oitavo departamento de artes do Louvre.