Título: A corrida pelo voto
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 26/09/2005, O GLOBO, p. 2

Às vésperas das eleições para a presidência da Câmara, o quadro eleitoral está indefinido e há uma batalha pelos 144 votos do PP, do PL e do PTB. Os três partidos têm suas próprias candidaturas. Mas eles estão espremidos pelo maior poder de fogo dos candidatos da oposição, Thomaz Nonô (PFL-AL); do governo, Aldo Rebelo (PCdoB-SP); e do PMDB, Michel Temer (SP).

Todos os candidatos passaram o fim de semana telefonando para os 513 deputados. Os candidatos do governo e da oposição concentram seu trabalho de expansão de seus votos justamente em cima dos parlamentares do PP, do PL e do PTB. O presidente do PMDB, Michel Temer, quer os quatro partidos juntos, tendo a si próprio como o candidato, e conversou sobre isso com Luiz Antônio Fleury (PTB-SP), Ciro Nogueira (PP-PI) e João Caldas (PL-AL). A cartada de Temer está sendo dada depois de ele constatar que tanto a oposição, que o estimulou a concorrer, quanto o governo, que chegou a pensar em torná-lo seu candidato, decidiram que não têm interesse político em fortalecer o PMDB.

Correndo por fora, o deputado Francisco Dornelles (PP-RJ) decidiu que vai disputar no plenário. Aposta em se transformar no nome de consenso da oposição, se esta perceber que Nonô não ganhará. Dornelles vai se manter na expectativa de que o governo ou a oposição desembarquem na sua candidatura.

São tantas as variáveis que o quadro eleitoral vai mudar muito até quarta-feira, quando se realizará a votação para eleger o sucessor de Severino Cavalcanti. Até lá, alguns candidatos devem se retirar do processo, provocando realinhamento de forças. As candidaturas mais fragilizadas são as de Fleury, a de Ciro Nogueira e a de João Caldas. Destes, o mais desenvolto é Ciro Nogueira, que tenta se viabilizar como herdeiro de Severino Cavalcanti e novo líder do chamado baixo clero. Apesar da polarização, dois candidatos, Michel Temer e Francisco Dornelles, ainda tentam se viabilizar como alternativa de consenso. Hoje existem apenas duas candidaturas consolidadas, as de Thomaz Nonô e Aldo Rebelo. Mas elas também enfrentam seus problemas.

A forma pela qual Aldo foi escolhido, com o aval do presidente Lula, descontentou alguns petistas, que estão resmungando pelos cantos. No caso de Nonô, a dificuldade é convencer o PP e o PL de que devem votar num candidato da oposição, no momento em que esta faz de tudo para arrebentar com ambos.